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O PSD é porventura o partido mais orgânico da nossa sociedade, aquele que melhor se mescla com a vida real. Entre sindicalistas, autarcas, gestores da coisa pública e profissionais das atividades privadas, nunca faltam nomes social-democratas para eleger uma lista ou uma equipa dirigente. Esta organicidade é sobretudo um património do PPD, ou, se quisermos, do partido que Sá Carneiro enraizou em valores seguros da nossa tradição, entre os quais o do trabalho na sua dupla dimensão de direito e dever. Fê-lo num tempo em que o debate político estava centrado na liberdade, a bandeira que o PS de Mário Soares desfraldou para rejeitar compromissos com o PCP de Álvaro Cunhal.
Também por isto, os congressos do PPD e depois, por algum tempo, os do PSD foram grandes e vivas festas do país real. Animadas por debates de grupos e tendências com nomes de batismo que diziam tudo, ou quase, sobre linhagens e até luta de classes: o PSD sulista, elitista e liberal, o PSD da Linha, o PSD urbano, o PSD rural...
Dá-me pena ver este património político esbanjado por alterações estatutárias que muito objetivamente têm feito perder força aos congressos.
Tudo quanto possa contribuir para um regresso ao passado é bom para a democracia política em geral mas também para impedir que aconteça ao atual PSD e a Passos o que levou o PS e Sócrates a perder a confiança dos portugueses: sucessivas pequenas vitórias dos homens do aparelho que acabam por isolar o líder e deixá-lo à mercê de jogos de intriga palaciana.
Passos está com estava Sócrates no início: acredita em dois ou três destinos e deles não se deixa distrair porque só dá ouvidos a dois ou três mensageiros. Os tempos de austeridade em que vivemos ajudam porque é impossível distribuir o que não há.
Porém, o que aconteceu na Comissão de Coordenação da Região Norte já foi um grande alerta: Carlos Duarte, o presidente que todos os autarcas desejavam, foi derrotado por fogos cruzados de alguns comissários alojados nas estruturas locais do partido e que se regem pelos alinhamentos políticos.
O episódio é tanto mais relevante quanto ainda desconhecemos o essencial da reforma administrativa: quanto de concentração de freguesias e até municípios para quanto de desconcentração em recursos financeiros e serviços atualmente nas mãos do Estado central. Com a verdadeira regionalização em banho maria, aguardando um D. Sebastião capaz de provar a sua irredutível bondade em redução de custos e aumento de eficácia político-administrativa, o futuro da CCDRN [como das outras comissões] depende ainda mais de lideranças que elejam o mérito e a exequibilidade como critérios exclusivos dos dinheiros atribuídos aos projetos.
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