Corpo do artigo
Querendo ficaria. E seria incontestado. Mas decidiu parar, coisa diferente de sair. Não porque tenha sido derrotado, ou desafiado, ou sentisse falta de apoio. Ironicamente, deixa a liderança quando contados os votos das legislativas de 4 de outubro vencera. Parou por achar chegado o momento. Parou quando ninguém queria que assim fosse. Mas foi.
Paulo Portas representa mais do que um presidente do CDS. Foi o presidente que desde o XVI em Braga, no final dos anos 90, regenerou e renovou o partido, levando a par os grandes protagonistas dos tempos passados. Eleição atrás de eleição assegurou um ciclo de vitórias que lhe levaram a marca, o esforço e a crença. Legislativas, regionais nos Açores e na Madeira, autárquicas e europeias. Acreditou sempre e levou muitos mais nas disputas. Acertou invariavelmente na intuição que lhe fazia antecipar factos políticos, quando outros se limitavam a comentar as notícias dos jornais. E assegurou a admiração dos amigos e dos adversários.
Acompanhei-lhe o percurso e fiz parte daqueles que sempre lhe reconheceram o talento e a inteligência. Percorri todo o trajeto da base ao topo. Concelhia, distrital e nacional. Autarca, deputado à Assembleia da República, presidente do Grupo Parlamentar e eurodeputado. Tenho o privilégio da pertença à grande família democrata-cristã. E sinto o imenso orgulho de nesse tempo ter coincidido com a liderança de Paulo Portas.
Decidiu parar quando seria mais fácil continuar. Ao contrário do que quis quando era mais difícil e quando tanto de jogava. Há anos em Lisboa disse "Eu fico".
Não ficará de presidente. Mas continuará connosco, que lhe sentimos a perda, porque, ao contrário da velha convicção popular, há pessoas insubstituíveis.
Estará connosco nos conselhos, nas críticas, nos caminhos, nas vitórias e seguramente (principalmente) que nas derrotas de que a vida política uma ou outra vez é feita.
O CDS saberá reencontrar outras lideranças e continuará a traçar o destino que mais nenhum partido, mesmo tentando, conseguirá substituir.
O CDS não é o partido de um Homem só. Mas continuará a ser o partido de Paulo Portas.
Quem sabe um dia não voltará àquilo que sabe fazer melhor.
Dependesse de mim, voltaria.
Deputado europeu