A cidade de hoje é quase sinónimo de pressa. De stress. De correrias. Tudo, menos silêncio. Mas uma cidade sem vazios é como uma pauta sem pausas. E, como na música, também na vida são as pausas que dão sentido. Parar pode ser essencial. É na pausa que se abre espaço ao reencontro, à escuta, ao recomeço.
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Esta semana, o coral da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto renasceu, depois de mais de três décadas da sua fundação, antigos colegas de várias gerações voltaram a juntar-se. Muitos não se viam há mais de 30 anos. Alguns, embora vivendo no mesmo território, o Porto alargado, nunca mais se cruzaram.
A cidade que uniu, também afastou, afogada nas rotinas profissionais e familiares, nos horários desencontrados, nos compromissos e nos dias demasiado cheios, adiando o que o coração sempre guardou: a vontade de voltar a estar juntos.
A FEUP recebeu-nos e a cidade parou, entre risos e abraços de corpos mudados. E não foram os cabelos agora grisalhos que impediram o brilho nos olhos de todos e a vontade de cantar. E as vozes? As vozes estavam lá. Comoventes. Reconhecíveis. Afinadas pelo tempo e pela memória. Cantar é como andar de bicicleta: não se esquece. Mas é mais do que memória, é cura, é alma. É o reencontro com algo essencial. Durante três horas, viveu-se uma pausa que foi tudo menos pequena. Foi necessária. Foi intensa. Foi transformadora.
Saímos diferentes. Mais leves. Mais afinados. Prontos para reentrar no stress dos dias do quotidiano, o brilho, a força e, talvez, a melodia que necessitamos para a vida na cidade.
A música, como a mobilidade na cidade, é vida. Que este verão nos traga pausas para o encontro, para o afeto, para voltar a cantar.