Se pensou que ia falar sobre o Paulo Bento, desengane-se. Fez erros que um treinador não comete e nenhum seleccionador deve usar critérios de gratidão na escolha, mas há outros "mais encartados" para falar do assunto. O pé direito do título remete para "entrar com o pé direito". Tomou posse, há dias, o novo reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo. Pois bem, quando confrontado pelos jornalistas sobre as dificuldades orçamentais decorrentes da decisão do Tribunal Constitucional da qual decorre a reposição de salários e subsídios, Sebastião Feyo retorquiu, singelamente, que trocaria de bom grado essa verba por uma maior margem de manobra na gestão. Não sei se o ministro ouviu. Se não ouviu, certamente leu. E fez o quê? Enviou o seu secretário de Estado para uma reunião com o Conselho de Reitores em que estes, todos juntos, lhe pediram... mais dinheiro! A não reforma do Estado resulta, também, desta falta de rasgo, típica de uma lógica burocrática e planeadora, incapaz de identificar protagonistas e oportunidades. Este medo de descentralizar, misto de desconfiança sobre o que virá a acontecer e arrogância de quem sabe o que tem de ser feito, impede o Estado de se renovar à medida das suas necessidades e facilita a vida às corporações: para estas é simples contrapor um discurso explorando as falhas de decisões gerais, que não atendem às especificidades de cada caso. O centralismo alimenta, e alimenta-se, do corporativismo. Estão bem um para o outro.
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Como é óbvio, um sistema de ensino precisa de coordenação, regras e objectivos gerais, supervisão. Precisa de um controlo rigoroso, capaz de punir mas também de premiar e difundir as melhores práticas: ver para crer ainda é um dos métodos de aprendizagem mais eficazes. O poder central reservar-se-ia essas funções, estabeleceria o caderno de encargos, velaria pelo seu cumprimento. O Ensino Superior, universitário e politécnico, poderia ser, assim houvesse vontade, um significativo balão de ensaio. Não havendo essa vontade, essa capacidade de assumir riscos e de desafiar, a política educativa continuará a ser mais do mesmo. Terá de enfrentar os mesmos lóbis, tomará as mesmas decisões assentes numa racionalidade ditada por compêndios de onde a realidade está ausente. Continuarão a ser encerradas escolas porque a métrica inexorável do "eduquês", que o ministro dizia abominar, assim o determina. A socialização é, sem dúvida, importante. E a manutenção da vitalidade territorial, não o é? Alguém pensou nas consequências, nos sinais que se dão, quando se amputa uma povoação de todos os serviços que simbolizam a presença do Estado? Se a motivação não é financeira, como o ministro afirmou, não seria possível uma solução híbrida que mantivesse as crianças na sua escola de origem na maior parte do tempo e tornasse a deslocação quase um acto lúdico, concentrado num determinado período de tempo? E já se exploraram as potencialidades das novas tecnologias? Admito que tudo isto já tenha sido pensado e, até, tentado. Se assim for, não sobressai nas justificações. E devia: as populações atingidas, os pais em particular, merecem outro respeito.
Não ignoro as dificuldades. Sou adepto do gradualismo, dos projectos-piloto. É provável que nem todas as universidades ou politécnicos estejam preparados, ou disponíveis, para correr os riscos de caminhar sozinhos. Nem mesmo os que se dizem preparados o estão. Um exemplo? Após o ministro da Saúde ter concedido ao Hospital de S. João uma maior autonomia na gestão, logo a Ordem dos Médicos e alguns administradores hospitalares reclamaram a generalização da medida. Um deles, ao tentar justificar as poupanças que daí poderiam advir, invocou quanto pagava aos privados por não poder fazer um dado tratamento internamente. Precipitou-se. As contas não se fazem assim mas por comparação com os custos que teria de suportar se a opção fosse internalizar. Organizações maiores não são, necessariamente, melhores por mais que alimentem o ego de quem está à frente das mesmas. Estas "bolas fora" só aos centralistas aproveitam!