O padre Manuel Antunes sonhou uma Europa unida, um ideal que já conheceu melhores dias.
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Com o renascer dos nacionalismos, e com os medos plantados pelos populistas que aproveitam o aumento da emigração para a Europa, os europeus são levados a pôr em causa o projeto europeu e a querer isolar os seus países e recuperar antigas fronteiras. O abandono da União Europeia pelo Reino Unido é um sinal claro desta desagregação a que se vai assistindo.
Manuel Antunes, padre jesuíta, nasceu há 100 anos na Sertã, a 3 de novembro de 1918. Para comemorar essa efeméride foi organizado um congresso internacional com o tema "Repensar Portugal, a Europa e a Globalização". Teve a sua sessão de abertura na Assembleia da República, na sexta-feira, passou depois pela Sertã e será encerrado amanhã, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, com a presença do presidente da República.
O filósofo francês Edgar Morin enviou uma mensagem ao congresso em que se refere ao padre Manuel Antunes como uma "grande referência da cultura" e figura de "inteligência superior", ao serviço do diálogo na sociedade, segundo a Agência Ecclesia. Aqueles que foram seus alunos, como Edite Estrela, que esteve presente na sessão da abertura na qualidade de presidente da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto da Assembleia da República, reconhecem a sua erudição e a sua capacidade de transmitir saber. Foi isso que o tornou aclamado como pensador e pedagogo.
A deputada classificou-o como um "mestre singular" que "semeou ideias e deixou um inestimável legado de valores culturais". Para Edite Estrela, ele foi um "construtor de pontes e pedagogo da democracia" que, ao longo da sua vida, produziu um pensamento "humanista, democrático e europeu". Na mesma ocasião, o padre José Frazão Correia, superior dos Jesuítas em Portugal, afirmou que o "padre Manuel Antunes viu melhor, porque viu mais".
Portugal e a Europa precisam de pensadores que continuem a propor e a pugnar pelo sonho europeu. E precisa de políticos que não tenham vistas curtas e que combatam, com inteligência e com lisura, os que enveredam pelo populismo fácil, que pode ganhar eleições mas que não trará nada de bom, nem para a Europa, nem para o Mundo. Como o século XX demonstrou.
Oxalá a Igreja em Portugal continue a gerar sacerdotes com a estatura de Manuel Antunes. Padres que não sejam apenas funcionários do sagrado, enredados em questiúnculas eclesiásticas, mas pensadores que saibam dialogar com o Mundo e propor novos ideais.
*PADRE