Pela valorização do serviço público de média
Foi apresentado esta semana o "Livro branco do serviço público de média", que assino juntamente com seis outros elementos. Trata-se de um documento redigido a pedido do ministro da Cultura, que procura fornecer bases a um novo Contrato de Concessão de Serviço Público a celebrar entre o Estado e a RTP. O momento é de crucial importância.
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Tendo em conta os contextos atuais de consumo dos média, um dos maiores desafios do operador público português, à semelhança dos seus congéneres europeus, é a transformação digital que, aplicada às formas de produção e de distribuição, implica pensar conteúdos numa abordagem "digital first, mobile first". Falamos aqui de uma revolução. Urgente. Estamos no limiar de uma nova era em que não faz mais sentido falar de um serviço público de rádio e televisão, mas sim de média. Neste quadro, é necessário promover mudanças estruturais de forma determinada. Se assim não acontecer, a RTP tornar-se-á em breve irrelevante e, como tal, difícil de legitimar. Não há outro caminho a fazer.
Outra proposta defendida é a de dar mais centralidade à informação, afirmando-a como referencial de qualidade, de confiança, de pluralismo, de diversidade, de inclusão e de inovação, capaz de surpreender e cativar novos públicos. O operador público necessita de encontrar na informação que faz a sua marca distintiva, conferindo-lhe notoriedade. E isso exige também uma nova agenda noticiosa e um diferente olhar sobre a realidade.
Tendo já feito a passagem das audiências para os públicos, os operadores públicos precisam agora de promover outra evolução para valorizar os cidadãos/ãs. Aqueles/as que consomem conteúdos, mas também aqueles/as que estão longe desses consumos, mas que indiretamente são por eles influenciados. O Serviço Público de Média é de todos, porque é pago por todos e, como tal, deve ser pensado em função de todos.
A RTP tem futuro, se quem tem responsabilidade política (tutela e Parlamento) reunir as condições necessárias para o efeito, nomeadamente alterando o respetivo enquadramento legal e o contrato de concessão, hoje desajustados da realidade. Esse futuro tem de ser também assegurado por quem tem a responsabilidade de gerir a empresa. Que, por sua vez, deve contar com os meios necessários para garantir um serviço público de referência em relação ao qual deve sempre prestar contas. No entanto, qualquer processo de mudança só se efetiva se cada elemento da organização estiver disponível para nele se implicar. Com vontade, com determinação, com garra, assumindo-se corresponsável pela missão de SP.
*Prof. associada com agregação da UMinho