Gosto mais da versão inglesa dos que se definem a favor da despenalização do aborto: "pro-choice". Ser a favor da possibilidade de escolha não é ser a favor do aborto, é ser a favor de que a terrível decisão possa ser levada a cabo em ambiente protegido, controlado e com aconselhamento.
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Trata-se de poder fazer uma escolha, consciente, ainda que ditada por circunstâncias difíceis, muitas vezes inexoráveis, que ditam mais do que a consciência, que mandam mais do que o coração.
Uma outra escolha terrível, inimaginável sequer para quem não está nessa posição, é a de decidir que o melhor é acabar com a própria vida, mesmo estando na plena posse das suas faculdades mentais. Não há ninguém que possa julgar quem foi traído desta forma pelo destino, não há ninguém que possa saber o que é melhor pelo outro. Mas por muito que seja uma decisão pessoal, há uma coisa que a eutanásia não é: um ato solitário. Isso é o suicídio. Morrer legalmente às mãos de outro, um médico, implica que haja quem queira matar. E é impossível ignorar que matar alguém tem de provocar um grave conflito na consciência de quem o faz, mesmo que dentro da lei. Ainda assim, estando tudo devidamente acautelado, e se há quem se disponibilize para o fazer, convicto de que é o melhor para o seu doente, não tenho dúvidas de que deve ser legalizada a possibilidade de pedir essa derradeira ajuda, de poder fazer essa escolha.
JORNALISTA