Podemos imaginar verdadeiramente o sofrimento que causa a guerra pelas imagens que nos chegam todos os dias pelas televisões? Não, felizmente para nós, não podemos.
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Como podemos evocar as coisas belas e boas que temos na vida, no meio de tanto sofrimento? Como nos podemos sentir ao ver o que perdem as crianças com a guerra? As crianças vítimas diretas da guerra que perdem muito, quantas vezes tudo! E as nossas crianças, embora protegidas da violência real da guerra, não são imunes ao impacto psicológico da guerra. Como protegê-las?
Não podemos esquecer a sorte que temos e todas as oportunidades de podermos usufruir de momentos de liberdade, de experiências felizes que são vitais para o bem-estar das nossas crianças, que passaram pelos dois anos de pandemia e agora são sujeitas aos horrores de uma guerra distante, mas muito próxima.
É talvez por isto que se sente, em Matosinhos e em tantas outras cidades, uma adesão expressiva aos eventos culturais, ao usufruto de jardins e espaços públicos cuidados.
Falando de Matosinhos, verificamos que o Corredor Verde de Leça se transformou rapidamente num espaço de grande afluência e que as atividades culturais e desportivas têm uma crescente procura. É como se procurássemos intensificar o contacto com o que é bom, com o que é belo, na busca de proteção perante a malvadez dos senhores da guerra.
As margens do rio Leça, que unem famílias em momentos de felicidade, são um símbolo de união de comunidades que se mobilizaram para recuperar algo que parecia perdido e criar um espaço de harmonia entre os seres humanos e a natureza.
Desejamos todos que a guerra termine, na Ucrânia e em tantos outros países. Desejamos a paz, a tranquilidade, a possibilidade de vermos as crianças crescerem confiantes, seguras e felizes. As nossas e todas as outras, o que justifica a enorme onda de solidariedade que os portugueses demonstraram com os refugiados ucranianos, quase sempre crianças acompanhadas pelas suas mães numa busca daquilo que temos de mais importante: a paz!
Não esqueçamos, não podemos esquecer nunca! Mas temos a obrigação de encontrar no meio desta tragédia o caminho da esperança, de fazermos da nossa vida "normal" uma afirmação dos valores da paz e da democracia.
Esta é uma primavera marcada por sombras negras. Que teremos de dissipar porque a vida é um valor maior que defendemos, e mesmo quando tudo parece deixar de fazer sentido, temos a responsabilidade de saber descobrir o futuro e de sabermos dar futuro às crianças.
*verso da "Ode à paz", de Natália Correia
*Presidente da Câmara de Matosinhos