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O Chega sente-se politicamente excluído de um programa humorístico protagonizado por Ricardo Araújo Pereira (RAP). Não deixa de ser paradoxal que a Comissão Nacional de Eleições tenha dado ouvidos às queixas de três cidadãos que serão, no mínimo, simpatizantes do Chega. Será que um programa humorístico pode ser equiparado a informação? Tratar todos os partidos por igual será obrigação, por exemplo, de um dramaturgo que faça sátira política no teatro mais próximo de si?
Em certo sentido, compreende-se que o Chega se sinta excluído. Por vezes, não interessa se as pessoas falam mal de nós, o que interessa é que falem. RAP tem contribuído para esse falatório maldizente, mas como comediante dos sete costados parece pouco disposto a ser politicamente equitativo quanto aos seus convidados. Note-se que as entrevistas são carregadas de humor, pese embora contenham referências à realidade, o que só torna tudo mais risível, no bom sentido do termo.
Um estudo intitulado “Paródias humorísticas da cultura popular como estratégia na comunicação populista de Boris Johnson”, publicado há um ano, traz alguma luz sobre o cruzamento da política com o humor. Entre 2019 e 2020, os autores analisaram as intervenções do antigo primeiro-ministro inglês. Tal como Boris o fez, André Ventura tem usado com frequência o humor para veicular pontos de vista de forma inocente. Quem não se lembra da forma bem-disposta como foi apresentada a proposta de castração química ou até física dos pedófilos? E mais recente acusação de traição à pátria dirigida a Marcelo Rebelo de Sousa, misturada com toques subtis de humor relativos ao facto de o visado não ser presidente das antigas colónias? Pelo humor se mata e pelo humor se morre.