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O socialista Francisco Assis, presidente da Delegação do Parlamento Europeu para o Mercosul apelou - e muito bem - ao respeito pela lei e pelo princípio da separação de poderes na Venezuela, a propósito da suspensão da Assembleia Nacional e das restrições à imunidade parlamentar, decididas pelo Supremo Tribunal do país.
Teve o meu apoio. Mas dos eurodeputados comunistas portugueses não. Faz sentido. A "geringonça" nasceu e vive de opostos, renegando razões de princípio, para simples imposição do poder.
Na Venezuela, um dos países mais ricos da América do Sul, governam aqueles que o BE diz travam uma "luta muito importante contra o imperialismo e contra o FMI" e o PCP considera "forças progressistas e revolucionárias" que defendem "o processo revolucionário bolivariano e as suas históricas conquistas". São conquistas que ostentam a miséria como avanços.
Na Venezuela faltam medicamentos essenciais, falta comida, falta até o papel higiénico.
Nas padarias, muitas pertencentes a luso-venezuelanos, não há pão, depois de aumentos de 900 % no preço da farinha, por decisão de um Governo que, na loucura extremista ordenou, não raras vezes, fossem ocupadas.
O preço do litro de gasolina aumentou de 10 centavos de bolívar para 6 bolívares. A Venezuela possui as maiores reservas de petróleo do planeta.
Nas residências, a luz é cortada diariamente por períodos até quatro horas e estão em curso planos de racionamento de água.
A violência disparou. Oposicionistas são espancados e detidos por delito de opinião. Os raptos e os homicídios sucedem-se e Caracas já ostenta o título de cidade mais perigosa do Mundo.
A Venezuela é o país com mais alta inflação.
Maduro decretou o dia 1.º de novembro como o dia de Natal, revelou que em abril de 2016 Hugo Chávez lhe apareceu na forma de "passarinho pequenino", para abençoar o início da campanha eleitoral e decidiu que na Função Pública só se trabalharia dois dias por semana.
A recente decisão, iníqua e totalitária do Supremo Tribunal, instrumentalizado pelo regime, foi só mais um passo num percurso alucinado que, 100 anos depois da revolução bolchevique de 1917, mostra a mestria com que, de cada vez que o marxismo-leninismo é poder, os recursos naturais imensos são transformados em pobreza e os povos ficam à míngua.
A Venezuela agoniza, mas a extrema-esquerda portuguesa prefere ficar do lado das derivas ditatoriais, em vez de se pronunciar a favor da democracia. A mesma extrema-esquerda que permite que em Portugal, quem perdeu, afinal governe. Também faz sentido.
*DEPUTADO EUROPEU