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Nem sempre os problemas do país real andam alinhados com os do país político, mas a campanha eleitoral para as autárquicas tem sido um casamento invulgar entre estas duas dimensões. Não que as chamadas questões locais sejam menores (basta ver como o eleitorado responde positivamente há décadas), mas a subalternização a que tantas vezes este ato eleitoral é sujeito tende a qualificá-lo como uma espécie de segunda liga do campeonato político.
Mas voltando ao encontro de vontades: os debates que, por estes dias, juntam centenas de candidatos autárquicos têm sido pródigos na repetição de duas urgências nacionais: habitação e mobilidade. Que são, em primeira instância, duas urgências municipais. Ora, se há coisa que se tem percebido é que, de forma mais ou menos evidente (e o caso do Porto é paradigmático), o poder central continua a ter um ascendente demasiado vincado como centro de decisões locais. O famigerado metrobus que ora anda ora não anda (mais uma novela à moda do Porto) e a incapacidade de regrar o alojamento local e os seus abusos são disso exemplo.
A força dos autarcas será tão mais decisiva quanto maior for a sua esfera de poder efetivo. Um poder que possa ser realmente transformador, que não dependa de uma organização administrativa imposta à força. Mas para que essa marca executiva local realmente se veja, há que dotar os municípios de meios humanos e financeiros à medida das suas responsabilidades. A descentralização de competências tinha muitas virtudes, mas foi desvirtuada por essa tremenda fragilidade prática. Hoje, pensamos local e agimos nacional. O país precisa de pensar local e agir local.