1 A TAP deixou ontem de ser portuguesa, mais percentagem, menos percentagem. Não parece haver grandes razões para regozijo por aquilo que há 70 anos era um desígnio ser hoje despachado como um problema. Os ares nas companhias aéreas mudaram, é certo, mas o falhanço de outros não chega para que celebrar que saia da esfera nacional um valor estratégico para o país.
Corpo do artigo
Que tenha sido feito a correr, durante a vigência de um Governo de gestão, com uma garantia indireta do Estado aos bancos de que estará disponível para aguentar o negócio, no caso de tudo correr tudo muito mal, pode ser justificado pela necessidade, mas é também um sinal de perda e de muita incerteza quanto ao futuro.
A medida parece ser imprópria para um Governo de gestão, que acaba por livrar o PS de um potencial embaraço político na relação com PCP e BE e deixa à Direita o ónus de uma possível aterragem de emergência do negócio. E se a necessidade era tal que já não havia dinheiro para os ordenados, então era próprio que os portugueses pudessem saber mais das contas da empresa, para avaliar a decisão. Mas, se calhar, é pedir de mais a um Governo que está em gestão de campanha eleitoral.
2 Já todas as metáforas foram empregues para justificadamente enaltecer a personalidade irrepetível de Paulo Cunha e Silva. O seu percurso de programador e de provocador do mundo cultural e da vida na cidade vai deixar um vazio que se vai sentir durante muito tempo. Se era fácil fazer a diferença depois dos 12 anos de cegueira de Rui Rio, será muito difícil superar o que Paulo Cunha e Silva começou e certamente impossível de alcançar tudo o que ele imaginava fazer.
Porque se o percurso de Paulo Cunha e Silva, na Porto 2001, em Serralves, na Guimarães Capital da Cultura e na vereação da Câmara do Porto é a de um excecional programador, a sua ação e a sua personalidade elevavam-no à categoria de verdadeiro autor de ideias. E os autores copiam-se, mas a sua criação é irrepetível.
Quem teve a oportunidade de o conhecer compreende bem que os cartazes espalhados pelo Porto, com as atividades que ele ainda ajudou a programar, refletem a personalidade infatigável do Paulo Cunha e Silva, mas já são uma pálida ideia de tudo aquilo que ele ainda tinha para nos dar. Ele, sim, foi, sem margens para qualquer dúvida, uma perda nacional.