O acordo alcançado na quinta-feira sobre o pacote financeiro de 500 mil milhões proposto pelo Eurogrupo liderado pelo ministro das Finanças português tem uma novidade assaz pertinente: o famoso eixo Paris-Berlim não funcionou.
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Mais, ele foi substituído por uma revolta dos países do Sul muito por causa do impacto das declarações de António Costa ao classificar de "repugnantes" as palavras do ministro holandês que pediu que Espanha fosse investigada por não ter capacidade orçamental para fazer face à pandemia. O primeiro-ministro disse mesmo que a afirmação de Wopke Hoekstra era "uma absoluta inconsciência" e uma "mesquinhez recorrente".
Apesar do pedido de desculpas posterior do holandês, ficou patente o nascimento do eixo Lisboa-Madrid-Paris-Roma. Este movimento vai continuar a existir pese embora tenha tido a primeira derrota nas negociações no seio do Eurogrupo. A ideia de emissões conjuntas de obrigações - os chamados "coronabonds" - não vingou, mas representou um pequeno terramoto para alguns países do Norte. Alguns, como a Alemanha e a Holanda não estavam preparados para sofrer uma oposição tão certeira e pertinaz.
Como é evidente, os países do Sul ainda não desistiram do seu propósito. Facilmente se chega à conclusão que este resgate europeu é um paliativo. Uma espécie de entrada de um jantar que infelizmente será demorado e de difícil digestão. Pratos mais fortes terão de ser negociados e um deles será o "eurobond". Os do Norte vão ser bastante pressionados. Isto será como nos casamentos: juntos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, ou seja, com "coronabonds". Caso contrário, um divórcio litigioso sério e com proporções épicas e divisão da Europa em várias fações. O Brexit será visto como uma brincadeira. Esse dia vai chegar.
Editor-executivo