A não aprovação da proposta de Orçamento do Estado para 2022 teve como consequência a dissolução da Assembleia da República e a convocação de novas eleições para o próximo dia 30 de janeiro de 2022. O facto em si mesmo, sem ser dramático, está longe de ser positivo. A retoma ainda lenta de uma situação difícil recomendava maior prudência com o futuro mais imediato.
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Nas universidades, para além das dúvidas em aspetos mais correntes, interrompe-se um acordo de legislatura, sem que seja possível no imediato perceber se o mesmo será, ou não, mantido nos próximos dois anos. Em termos práticos será um ano perdido.
A perspetiva está por isso mesmo longe de ser positiva, resultado de um conjunto de equívocos sucessivos, que inevitavelmente, cedo ou tarde, esbarram com a realidade. E esta diz-nos que o país vai acentuando um diferencial negativo de desenvolvimento e competitividade relativa com os seus parceiros europeus. A dependência sucessiva do Governo nas negociações à Esquerda, ano após ano, levaram a esta inevitabilidade, sendo a resistência do primeiro-ministro em ultrapassar limites que colocassem em causa a credibilidade externa e sustentabilidade financeira uma das poucas perspetivas positivas que emergem da crise. Há partidos que sempre viveram, viverão, o equívoco da redistribuição em base unitária de riqueza que não existe, tão-pouco esperam ou acreditam que se produza, sendo este um problema insolúvel, porque a própria sustentação destes partidos não assenta na realidade, mas num equívoco histórico. A manutenção por tempo excessivo de uma realidade ficcionada faz aumentar a frustração de muitos, daí resultando o crescimento de espaços de expressão de radicalismos absurdos, ou de projetos ingénuos e estéreis. Desta leitura da realidade resulta um acréscimo natural de responsabilidades, sem o que a perspetiva de um futuro melhor será um equívoco, que terminará de frente com uma realidade bem dura.
Reitor da UTAD