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Ser um filho da terra tem custos pesados na carteira, sobretudo no Interior Norte e Centro. Não se escolhe a família nem o local onde se nasce, mas ambos os fatores são decisivos para a vida futura. Em muitos casos, as migrações forçadas - com peso no orçamento familiar - começam cedo, ainda enquanto estudante. Fazem-se contas à viagem, porque o concelho não tem Ensino Secundário. Segue-se nova migração - e mais contas - se a ambição o levar ao Ensino Superior e, terminados os estudos, são muitos os que engolem a saudade e fixam raízes fora da terra natal em troca de um ordenado maior e do emprego desejado, com morada nas áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa, nas capitais de distrito, em particular do Litoral, ou no estrangeiro. Pelo meio, repetem-se os discursos políticos da coesão territorial, os estudos que prometem tudo mudar, as tentativas aqui e ali de alavancar as regiões que teimam ficar para trás, desde que não belisquem as grandes metrópoles que, pelo peso crescente da concentração populacional e de empresas, têm voz de megafone, problemas emergentes que urge resolver e eleitores com fartura. Até que a realidade estatística nos desperta e choca. Os estudos do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre o poder de compra concelhio mostram, com inquietante frieza, que, em 20 anos, grande parte dos concelhos do Interior Norte e Centro foi incapaz de se aproximar da média nacional (de 100). Baião, que até é parte do distrito do Porto, é um exemplo do avanço a passo de caracol: passou de um indicador de poder de compra per capita de 46,31 em 2004 para 64,54 em 2023. Os residentes da Invicta ganham mais do dobro. Ser filho da terra tem custos pesados: quem escolheu ficar no concelho do verde voluptuoso e da gastronomia com mão divina e onde o trânsito nem se vê, já sabe que a moeda de troca é sacrificar - e muito - o dinheiro que entra na carteira.

