Há uns anos havia gente que via os brasileiros como intrusos que vinham para Portugal roubar trabalho aos "nossos".
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Folgo em saber que isso mudou, e agora os portugueses veem com maus olhos não os brasileiros que trabalham mas os brasileiros que estudam! Aconteceu na Faculdade de Direito de Lisboa, onde estudantes revoltados com uma eventual desigualdade no tratamento de alunos portugueses e estrangeiros, sugeriram, em tom de graça, que se atirassem pedras aos brasileiros que resolveram invadir-nos para fazer o mestrado. Nos tempos em que se ocupavam com coisas mais decentes, tipo sequestrar pessoas no BES, tudo bem, a comunidade académica não se preocupava. Agora, vir para cá aprender? É mesmo para provocar, quando é sabido que os portugueses que frequentam faculdades não têm por hábito estudar. Só nas últimas semanas soubemos de uns que se ocupavam a esmurrar um boneco no átrio do ISCTE, de outros que acharam giro batizar um carro da Queima das Fitas de Coimbra como "Alcoholocausto", e destes, que escreveram um cartaz a dizer "pedras grátis se for para atirar a um zuca (que passou à frente no mestrado)". Há quem fique surpreendido com este tipo de humor, tão básico, praticado nas universidades portuguesas. Acho que quem passou por alguma delas nos últimos 20 anos não esperava outra coisa. Falo por mim (à falta de melhor): lembro-me do primeiro dia do curso de Ciências da Comunicação, em que uns tipos vestidos com aquela farda que parece de empregado de mesa mas é o chamado traje académico, entoavam, a plenos pulmões, a sofisticada canção "é orgia, é bacanal, é Comunicação Social". Acabou por ser, de certa forma, o meu primeiro e último dia. Se soubesse que Comunicação Social era aquilo não me tinha dado ao trabalho de estudar tanto para o exame de Português A... mais valia ter uma uma média mais baixa e ir para a Faculdade de Direito lanchar com "zucas" e comentar a boçalidade dos cartazes dos "tugas". É especialmente injusto massacrar os brasileiros com humor deste nível, logo eles que já tiveram de aturar coisas como "Os trapalhões".
Os autores daquela instalação artística de gosto duvidoso podiam ter usado esse tempo para reclamarem com quem de direito. Bom, na verdade eles são todos de direito, mas tenho esperança que estes acabem por chumbar... Consta que os responsáveis da faculdade anteciparam a data de inscrições nos mestrados, impedindo assim que os alunos que ainda estão a concluir a licenciatura se inscrevam, e beneficiando os estudantes de fora da Europa. Ora, reclamar com as pessoas que simplesmente aproveitam a oportunidade para se inscreverem, cumprindo os regulamentos, é absurdo. É o equivalente a perder um avião por culpa da companhia aérea e, em vez de ficar chateado com a TAP (marca escolhida aleatoriamente, sabemos que a TAP raramente tem problemas desse género) ficar revoltado com os passageiros que seguiram a bordo. Que culpa têm eles?
Na base deste protesto está não só o facto dos brasileiros poderem inscrever-se mais cedo, mas também uma eventual discrepância das notas que são dadas de um e doutro lado do Atlântico. Isto é capaz de ser verdade, que eu via a "Malhação" e lembro-me que eles aplicavam-se todos muito pouco: o Cabeção, o Mau Mau e a Drica passavam muito mais tempo no bar Guacamole do que a fazer os trabalhos de casa, para desespero do diretor Pasqualete. É de facto injusto que alguém que conclua os estudos no "Múltipla Escolha" depois tenha equivalência para ingressar no exigente ensino português. Mas à partida não acontece (este parágrafo foi dedicado a todos os que nasceram na década de 80 e iam para casa mais cedo para não perder este "Morangos com açúcar" brasileiro).
Alguns estudantes da Faculdade de Direito queixaram-se também do facto dos professores daquela faculdade não darem, por princípio, notas superiores a 16, o que complica depois a competição com os brasileiros. Não percebo então porque não protestam com eles. Nunca percebi estes catedráticos portugueses que fazem gala em trabalhar com uma escala diferente, como se estivessem a reinventar a roda... É uma espécie de ato de rebeldia que assentaria melhor, apesar de tudo, aos imberbes de capa negra...
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Para o jornalista Paulo Garcia que descreveu a coreografia da claque do Braga, na pedreira, como sendo do Benfica, e viu nela o Terreiro do Paço e o Arco do Triunfo. Por que raio teria o Benfica aquelas tarjas fora de casa? (clubes amigos, é certo, mas negócios à parte, tirando os negócios de construção de Salvador e Vieira), e por que raio um monumento francês? Claro que todos nos enganamos (e quem passou anos a ouvir Dias Ferreira ainda mais) mas isto prova que muitos portugueses mais depressa vão a Paris do que ao Minho. É caso para sugerir "vá para fora cá dentro".
*HUMORISTA