A partir de hoje, estão à disposição dos estudiosos os documentos arquivados no Vaticano durante o longo pontificado de Pio XII (1939-1958). "O que poderá ser consultado são os arquivos das principais instituições da Santa Sé, a começar pelo Arquivo Central, o Arquivo Apostólico Vaticano, e a ela terão acesso, sem qualquer restrição de religião, de proveniência, de ideologia, isto é, de uma total abertura, os estudiosos qualificados", afirmou o cardeal D. Tolentino Mendonça, responsável pelo Arquivo Apostólico Vaticano, na conferência de imprensa sobre a disponibilização de todo este fundo documental.
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O conclave que elegeria Pio XII foi um dos mais breves da história - menos de 24 horas - e daria início a um dos pontificados mais longos, de 19 anos. Já soavam os tambores da guerra quando foi eleito e tudo fez para evitar a II Guerra Mundial. Ficou para a história a famosa frase: "Nada se perde com a paz. Tudo se perde com a guerra!"
É acusado de não ter condenado de forma veemente o nazismo e de ter, dessa forma, pactuado com o Holocausto. Há também quem defenda que, durante a Guerra, foram acolhidos milhares de judeus em edifícios católicos por sua ordem. Muitos dos líderes judaicos ter-lhe-ão manifestado, de todo o Mundo, a sua gratidão por isso.
Os documentos, agora acessíveis aos investigadores, poderão dissipar as suspeitas que pairam sobre esse Papa. Eventualmente confirmá-las. Ou, então, contextualizá-las e tornar mais compreensível os silêncios da Santa Sé e do Papa perante o bárbaro extermínio dos judeus.
Poderá ainda comprovar-se documentalmente o estratagema montado por Pio XII caso Hitler decidisse invadir o Vaticano e prender o Papa. Para evitar que o ditador prendesse o Papa, Pio XII terá escrito uma carta de abdicação que confiou a alguns cardeais, a qual só teria efeito nesse cenário. Deste modo, ao detê-lo, os nazis não prenderiam o Papa, mas apenas o cardeal Pacelli. Terá também determinado que o conclave se reunisse em Lisboa para eleger o seu sucessor.
Talvez haja entre os milhões de documentos que agora serão disponibilizados alguns que possam dar ainda maior sustentabilidade científica a estas teses. A todos será garantido o acesso, sem receio do que eles possam revelar, porque "a Igreja não tem medo da história, mas considera a avaliação dos estudiosos com a certeza de que seja compreendida a natureza de sua ação", disse D. Tolentino Mendonça. E todos os estudiosos serão "bem-vindos".
Os que primeiro se inscreveram e, por isso, serão hoje os primeiros a consultar os documentos, são os peritos vindos dos Estados Unidos, ligados ao Museu do Holocausto de Washington, segundo o sítio Vatican Insider.
O Papa Francisco determinou, em outubro de 2019, que o Arquivo Secreto do Vaticano se passasse a chamar o Arquivo Apostólico Vaticano, por este não ser tão secreto como se pensa. De facto, como qualquer outro arquivo, vai sendo aberto aos investigadores. Não como outros que têm uma frequência fixa, cada 50 ou 75 anos, mas por pontificado.
Padre