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Pior do que violência é a legitimação da violência, é o “mas” insidioso que procura justificar o intolerável, que pretende dar cobertura à selvajaria. Pior do cair no lodo é abraçar o lamaçal, lambuzar-se na podridão. Pior do que a indiferença é a intolerância. Pior do que ser ignorante é ignorar o oportunismo, aceitar acefalamente a pós verdade que nos servem. Pior do que a mentira é reconhecer o logro, aceita-lo e dar-lhe o nome de revolta. Pior do que o ódio, o discurso do ódio, é o encolher de ombros de quem se absolve em nome de um suposto protesto que mais não é do que sintoma do próprio embrutecimento. Pior do que as coisas estarem mal é vermos que podem piorar. Os tempos andam difíceis para se ser otimista. E ainda assim já cheira a sardinhas assadas e há flores brancas a nascer no relvado à porta de casa.