<p>O Plano de Estabilidade e Crescimento já recebeu a bênção da OCDE. Boa notícia para o Governo, que não quer levar da União Europeia uma nega, como levou a Grécia. E que, como sempre, se mostra disposto a satisfazer todas as exigências de Bruxelas, que se sintetizam em cortar, cortar e cortar. Doa a quem doer. E até que o défice encolha para 3%, valor que só alguns países podem "negociar".</p>
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Claro que José Sócrates tem, internamente, de obter o que se convencionou chamar o "máximo consenso possível". É o que tenta fazer, com a flexibilidade que a circunstância de dirigir um Governo minoritário impõe, ao plasmar na sua versão do PEC medidas susceptíveis de satisfazer toda a Oposição, por razões diversas. No fundo, o primeiro-ministro desafia cada um dos partidos a nele se rever, pelo menos um bocadinho.
Ao PSD, oferece uma versão "short" do TGV, primeiro sinal do assumido regresso do investimento público aos níveis anteriores à eclosão da crise económica - que é como quem diz a um investimento público praticamente residual. Ao CDS, acena com "maior rigor" na distribuição de apoios sociais. Traduza-se: corte no rendimento social de inserção, uma das bandeiras políticas mais agitadas por Paulo Portas.
Os dois partidos de Direita não torcem o nariz a privatizações a rodos, com meros propósitos economicistas, mesmo que os ventos do mercado não soprem a favor da venda em condições favoráveis. E aplaudem novas dietas de emagrecimento da Função Pública.
A Esquerda pode queixar-se dos tímidos objectivos traçados no combate ao desemprego - longe vão os tempos dos 150 mil postos de trabalho a criar numa legislatura. Mas Sócrates sabe que PCP e Bloco se revêem no novo escalão do IRS, direitinho aos rendimentos mais altos, e na taxação de mais-valias bolsistas.
Ciclópico exercício este, de quem paga o preço da ausência de apoio parlamentar suficiente. Não é (apenas) um PEC (Plano de Estabilidade e Crescimento), mas um PEG (Plano de Estabilidade Governativa). Pequeno problema: querendo agradar a gregos e a troianos, José Sócrates arrisca-se a não agradar a ninguém.