O plano de remodelação em curso (PREC) é umas das peças políticas mais interessantes dos últimos anos. Não apenas pelas causas, mas também pelas consequências e pelas circunstâncias com que o primeiro-ministro está obrigado a lidar.
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Há uma primeira evidência, condicionadora de tudo o resto: o estado de desagregação do Governo é há muito evidente, pelo que Passos Coelho devia ter arejado, em larga escala, a equipa há bastante tempo. Estaria hoje em melhores condições para enfrentar a tormenta. Mas, enfim, o que não tem remédio remediado está...
O primeiro-ministro terá pensado que seria melhor esperar pela decisão do Tribunal Constitucional (TC) para avaliar os danos e, em função deles, fazer uma remodelação mais ou menos alargada. Erro sério. A menos que, hipótese muito pouco provável, a decisão do TC fosse minimizável do ponto de vista do efeito nas contas públicas, teria sido bastante mais prudente remodelar cedo para que os novos ministros pudessem mergulhar nos dossiês, de modo a conseguirem, agora, atacar o que há para atacar. Por não ter feito isto, Passos Coelho está agora entre a espada e a parede.
Se remodela, quem (aceitar) entrar tem o purgatório pela frente. Sem dominar as pastas, como podem os novos ministros ser úteis nas negociações que aí vêm com a troika? E, sobretudo, que eficácia se lhes pode pedir na execução das novas medidas de austeridade? Aqui não há médio nem longo prazo. O país só vive do e no curto prazo, na agonia de responder ao dia. Não sobra tempo para estudar dossiês.
Se não remodela rapidamente, o primeiro-ministro acumula dois problemas: por um lado, acentua o desgaste do Governo e, por outro, reduz imensamente o espaço, já de si estreito, de recrutamento de novos protagonistas. Já deve haver muito pouca gente com disposição e disponibilidade para dar o corpo pela Pátria, por assim dizer, mas haverá certamente muito menos quando se conhecer como vai o Governo tapar o buraco de 1,3 mil milhões de euros aberto com a decisão do TC.
Os nomes que têm saltado para a comunicação social valem o que valem, mas são um indício das dificuldades deste PREC. Mostram, a confirmarem-se, a incapacidade de Passos sair do pequeno círculo dos indefetíveis. Os indefetíveis, como se sabe, dão geralmente muito pouco trabalho nos primeiros meses, por serem adeptos do incondicional ámen, mas dão muitíssimo trabalho nos meses seguintes, por serem basicamente incapazes de ajudar a acelerar a máquina, metendo nela novas ideias.
Perante este cenário, o caso Miguel Relvas são amendoins. Já ninguém se lembra dele. Embora ele não tenha esquecido os "amigos". Ele anda por aí. A ver, deleitado, o PREC passar.