O problema põe-se em a gente acreditar... não é que os planos e as ideias não façam sentido. É mais ter muita dificuldade em acreditar que a coisa vai mesmo ser levada até ao fim.
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E depois há a questão do ótimo que é inimigo do bom. E se juntarmos o que está previsto no Programa de Governo, no Acordo de Parceria Portugal 2020 (aquilo que prometemos a Bruxelas que íamos conseguir fazer com os fundos europeus) e o que agora se perfila no Plano Nacional de Reformas arriscamos a morrer de stresse coletivo.
Escrevo com ligeireza a saber que o assunto é pesado. Mas o que digo acima é irrefutável. Portugal sofre de uma vertigem tautológica que o leva a produzir exercícios heróicos de planeamento, mais ou menos reformistas, prestando pouquíssima atenção à sua execução e avaliação.
Senão vejamos. Em março de 2011, em pleno período de resgate financeiro, assinou-se o "Acordo Tripartido para a Competitividade e o Emprego" entre o Governo de então e a maioria dos parceiros sociais. Em janeiro de 2012, sem que se respigassem experiências ou efeitos do anteriormente planeado, assinava-se o "Compromisso para a Competitividade, o Crescimento e o Emprego " novamente articulando o Governo em funções e a maioria dos parceiros sociais. Poderá relembrar quem os quiser voltar a consultar que falamos de documentos que basicamente propõem uma verdadeira reforma do Estado prevendo tudo aquilo que, em tempos de severa recessão, nos permitiria voltar a crescer. Este último documento estabelecia mesmo calendarização precisa!
Em maio de 2013 é o então primeiro-ministro a prometer uma reforma do Estado, novamente muito abrangente e muito comprometida com o crescimento e o emprego, desta feita com um valor associado. Até 2015 seriam investidos 4700 milhões de euros neste ambicioso plano de modernização.
As medidas anunciadas acabaram na voragem política do "irrevogável" de Paulo Portas para voltarem a ver a luz do dia no famoso "Guião para a Reforma do Estado" apresentado em novembro desse ano. Foi cauteloso o então vice-primeiro-ministro. Escreveu um texto interessante que não desdobrou em medidas e, muito menos, em metas. Não sairia da gaveta.
António Costa acaba de apresentar o seu próprio PNR. Não faço comentários sobre o conteúdo. Não gostaria de perder muito tempo com o acompanhamento da respetiva discussão pública. Pagaria para ser confrontada, em tempo útil, com a respetiva execução e avaliação! Por favor?!