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A medicina transfusional é uma área da medicina centrada em laboratório e orientada para tratar, entre outros, casos de anemia, complicações cirúrgicas e materno-infantis, ou sepsis. É uma área essencial, mas depende sempre das reservas de sangue e seus derivados, e a sua falta pode levar a ocorrências fatais. O sangue é fundamental para a vida humana e por isso é usado em múltiplas situações terapêuticas, quer através de transfusões sanguíneas, quer com medicamentos derivados do plasma, o principal componente do sangue, uma vez que corresponde a cerca de 55% do seu volume. Em Portugal o plasma é obtido a partir da doação total de sangue ao Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) e aos serviços de sangue dos hospitais.
Em 2011, o então presidente do IPST afirmou que Portugal era já autossuficiente em plasma, tendo sido recuperada uma câmara de frio que tinha estado sem funcionar, numa altura em que o país gastava mais de 70 milhões de euros na importação de derivados de plasma. Sete anos mais tarde, em 2018, um ano antes de terminar o Programa Estratégico Nacional de Fracionamento de Plasma Humano 2015-2019, o IPST indicava como objetivo uma maximização do aproveitamento do plasma através da estabilidade das reservas de sangue. Era também anunciada a continuidade de um programa de fracionamento do plasma, e vincada a sua autossuficiência para transfusão, não sendo, contudo, válida para medicamentos seus derivados.
Hoje, quase quatro anos depois, Portugal continua a não ser autossuficiente!
Nos últimos anos tem vindo a ser colhida uma média anual de 60 mil litros de plasma, marcadamente insuficiente para as necessidades nacionais em medicamentos derivados do plasma, de acordo com um relatório da Consultora Wise Health Solutions entregue na Ordem dos Médicos em fevereiro de 2023. O mesmo relatório refere ainda ter havido um aumento do consumo de medicamentos derivados de plasma devido a novas indicações terapêuticas.
Dado que as necessidades estão a aumentar, e porque estamos longe de atingir a autossuficiência de medicamentos derivados do plasma, é indispensável planear processos que permitam em primeiro lugar aumentar as doações de sangue, e seguidamente gerir adequadamente os respetivos stocks. Os países que mais se aproximam da autossuficiência têm desenvolvido inteligentemente estratégias de colheita em centros públicos e privados.
A Organização Mundial da Saúde classifica o plasma e seus derivados como medicamentos essenciais. À semelhança de todos os outros países desenvolvidos, é importante e urgente que Portugal desenvolva um plano que garanta uma reserva de segurança, de forma a que nunca fique por tratar nenhum dos seus cidadãos.
*Médico