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Freitas do Amaral foi fundador do CDS, apoiou o PSD de Durão Barroso, o PS de José Sócrates, o PSD de Passos Coelho e agora o PS de António Costa. Em 2002 via no PSD o partido capaz de "enfrentar a crise de autoridade do Estado e das finanças públicas". Ficou a saber-se mais tarde que em 2001 propusera a Durão Barroso ser candidato à Presidência da República, apoiado pelo PSD, contra Jorge Sampaio. Não foi. E coincidência ou não, perdeu o encantamento.
Em 2005 pediu maioria absoluta para José Sócrates, entusiasmado com "a política económica proposta pelo PS, que promete apostar no crescimento económico para criar emprego". Como é sabido acabou ministro. Portugal teve pior sorte e foi intervencionado.
Em maio de 2011 renegou Sócrates, feito "comandante que levou o navio para o meio da tempestade". Ato contínuo pediu a vitória do PSD e de Passos Coelho, porque "o cumprimento rigoroso e atempado do acordo com a troika requer do primeiro-ministro que o tiver de aplicar a convicção íntima de que tal acordo foi (e é) indispensável". O ciclo de ajustamento foi concluído.
Mas por mistério insondável, Freitas do Amaral voltou a ver a bonança, onde antes proclamara a borrasca. E há dias declarou o apoio a António Costa, sob pretexto de que "se o PSD foi, e é, o partido da austeridade acima de tudo, o PS apresenta-se (e bem) como o partido do crescimento económico e da criação de emprego, dentro dos necessários equilíbrios financeiros. (...) Justiça social em democracia e na Europa, hoje, só com o PS".
Para lá do frete, convirá recordar a Freitas do Amaral que o PS deixou de ser Governo em 2011, depois de legar a Portugal défice, dívida, desemprego, recessão, a rejeição dos mercados e a intervenção humilhante da troika. Não garante justiça social quem a apregoa com a mão no peito e a lágrima no canto olho, mas desbarata os recursos e nega ao Estado a capacidade de a sustentar. Garante a justiça social quem a paga. E quatro anos depois, a coligação PSD/CDS libertou Portugal da troika e dá para balanço crescimento, desemprego abaixo dos níveis de 2011, equilíbrio da balança comercial e prestações sociais em dia.
Já agora, Freitas do Amaral foi ministro de José Sócrates e validou decisões que redundaram na tal tempestade que o país enfrentou. Abandonar o barco mais cedo e apoucar companheiros de percurso a quem fizera todas as juras, não aligeira responsabilidades próprias e desabona em relação a muito mais.
António Costa não vencerá as eleições. Mas se assim fosse, uma certeza teria. A de levar Freitas do Amaral consigo, até ao exato momento em que o vento mudasse. Até um outro apoio qualquer.
*DEPUTADO EUROPEU