A Suécia é o adversário que nos separa do campeonato do Mundo de futebol de 2014. A campanha de qualificação foi penosa: num grupo em que só havia uma outra selecção de qualidade, entretivemo-nos a perder pontos, em casa, com rivais menos cotados. Pior! Nunca jogámos futebol de qualidade como se viu nos dois últimos jogos, por comparação com os quais até o Benfica e o Porto parecem estar a jogar bem. Se chegou até aqui e não gosta de futebol, não desista. Esta crónica não é sobre o chamado desporto-rei.
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Há quem diga que não podia ter sido muito diferente. Embora constituída por jogadores que alinham, quase todos, em equipas estrangeiras, a sua qualidade não deslumbra. Há bons defesas-centrais, um excelente centro-campista e um avançado que, quando aparece, tem nível mundial. O resto é mediano. Pior é o treinador, com um discurso de uma nota só, incapaz de dar o braço a torcer e de galvanizar, jogadores ou público. Não admira, por isso, que o melhor que conseguimos tenha sido qualificarmo-nos para o "bota-fora" ou play-off, no calão futebolístico. Afinal já o mesmo tinha acontecido, se a memória não me falha, nas duas últimas vezes.
Tudo isto é uma boa metáfora. Em rigor, na economia, estamos, também, a disputar os últimos jogos de qualificação, sendo que o melhor a que podemos aspirar é o play-off, aqui designado "plano cautelar". Como no futebol, demos tiros nos pés e estamos nesta situação muito por culpa própria. Se nos qualificarmos, e passarmos, teremos acesso ao campeonato do Mundo: o financiamento em mercado livre, sem tutelas. Faltam-nos poucos jogos: ver como acaba o desafio em curso, esperando que a execução orçamental não seja tão má quanto aparenta aos 75 minutos, ou seja, em início de Outubro; preparar o próximo encontro, o orçamento para 2014, para o qual partimos com um mau plano de jogo que pode ser ainda prejudicado por algumas "entradas violentas" do Tribunal Constitucional (embora, neste caso, não sejam, como no futebol, à "margem da lei" mas "à letra da lei"...). A equipa só tem um craque (Paulo Macedo) e, tal como o seleccionador, o primeiro-ministro é fraquinho. Não é, porém, a altura de o mandar embora: só criaria perturbação e nem ao bota-fora iríamos o que, ao contrário do futebol, seria catastrófico. Com sorte, mesmo sem cumprir estritamente o plano de preparação, falhando nas execuções orçamentais deste ano e dos primeiros meses do próximo, pode ser que o organizador nos deixe ir ao play-off. Ou então, que mude as regras que dele dependem (i.e, juros e prazos), tornando mais fácil participar no campeonato. Em vez de andar a clamar pelo fair-play e em jogar limpo, talvez o "treinador" devesse empenhar-se em convencer as entidades competentes a fazerem isso mesmo, usando o exemplo de Scolari e mobilizando a nação em torno desse outro desafio.
Entretanto, é preciso pensar no futuro. Andar de play-off em play-off, de intervenção do FMI em intervenção da troika não é vida. Como no futebol, Portugal também se tem tornado num exportador de talentos. Nem por isso o futebol que se joga por cá se tem ressentido já que as principais equipas têm recrutado, nos mercados emergentes, jogadores em quem pressentem qualidade e que, depois, revendem com boa margem. Criaram, para o efeito, estruturas capazes, a começar nos clubes e a acabar em empresários que se tornaram uma referência mundial. Ainda assim, perante a crise financeira e o aumento de preços dos activos nos mercados externos, passaram a olhar com mais atenção para os recursos internos, jogadores nacionais que substituem as importações. Não obstante, continua a ser a nossa indústria mais globalizada, que só não é melhor dada a falta de concorrência num mercado dominado por duas equipas, para não dizer só uma. Em todas estas dimensões, o futebol é não só uma metáfora como uma lição, discussões clubistas à parte.
No sorteio para o play-off calhou-nos a Suécia. Um país do Norte da Europa, dos tais que nos impõem regras (e juízo). Mesmo com deficiências no plano de jogo e na equipa, vamo-nos a eles ou ficamo-nos? E não estou a pensar só no futebol.