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Terça-feira passada. Atraso no voo TAP para Madrid: cinco minutos! Quase a perfeição! No aeroporto, percebi que as coisas não iam ser bem assim. A porta foi anunciada e já havia mais 25 minutos. Era a porta 16. Tomei assento por lá. Minutos depois, vi no quadro: o embarque tinha passado para a porta 26, bastante mais longe. E lá fui eu. Encontrei um amigo de jornada e começámos a conversar. A certa altura, um de nós olhou o quadro e reparou: o embarque tinha mudado para a porta 13. Precisamente no outro extremo do aeroporto. Lá teria que ser! E fomos. Chegados, sentámo-nos. Anunciado entretanto um novo atraso. Afinal, já ia numa hora e dez. Retomada a conversa. Aviso: o embarque voltava, de novo, para a porta 26, repito, no outro extremo do longo corredor. Bem mandados, lá fomos. Embarcámos. Tinha saído de casa às 11.30, chegado ao aeroporto às 12, partido às 15. Cheguei ao hotel em Madrid às 18.30 locais. De porta a porta, seis horas, contando com a diferença horária! O voo Lisboa-Madrid demora 50 minutos! (No regresso, no dia seguinte, tudo "melhorou": mais de duas horas de atraso!)
Todos os dias há notícias de frequentes atrasos da TAP, que cancelou, nos primeiros dias desta semana, meia centena de voos. A "nova" TAP pode já dar lucros aos donos, mas só dá dores de cabeça aos utentes.
O aeroporto de Lisboa está hoje transformado num verdadeiro caos, vivido como se tal fosse a coisa mais natural do mundo. A começar pelo disfuncional sistema de chegada dos automóveis nas partidas, a acabar no mundo quase mafioso do transporte público nas chegadas, converteu-se num monstro à beira da iminente rotura. A certas horas, as filas para os controlos de segurança e para o "check-in" têm uma dimensão que obriga a um gasto de tempo perfeitamente irracional, que dilui as vantagens do transporte aéreo. Estes atrasos só são batidos pela tragédia em que se transformaram as chegadas de países fora da zona Schengen, numa mostra de desprezo objetivo por quem nos visita. Por insuficiência de instalações, a densidade dos passageiros tornou-se abafante, com falta de lugares sentados, sem o cuidado de haver suficientes passadeiras rolantes, evitando que as pessoas sejam obrigadas a calcorrear centenas de metros por corredores, nos quais beber uma água ou comer alguma coisa as sujeita a um assalto à mão armada em matéria de preços.
Salazar rir-se-ia se soubesse o vexame que Humberto Delgado está a passar por ter o seu nome nesta espécie de aeroporto, tendo sido ele o criador da TAP.
* EMBAIXADOR