Pobre pré-campanha!
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Os políticos portugueses não debatem o país. As suas intervenções servem para esconder os seus fantasmas no armário e exporem sub-repticiamente os monstros que os adversários tentam ocultar. Nesta perigosa retórica, sobressaem homens sem qualidades que deixam o cidadão comum com um grave problema: e agora, votamos em quem? Por estes dias, soube-se que o atual primeiro-ministro esteve alguns anos sem pagar o que devia à Segurança Social. Essa insistente noticiabilidade levou o PSD a ressuscitar notícias que davam conta de que o atual secretário-geral do PS não teria pago uma contribuição autárquica quando era ministro da Justiça. Os visados defendem-se atirando argumentos contra o terreno adversário. Esse fogo cruzado envolveu José Sócrates, que reagiu a partir da prisão, escrevendo uma carta onde clama que "o primeiro-ministro está próximo da miséria moral". Ferro Rodrigues juntou-se a estas duras críticas. E eis como Sócrates entrou definitivamente na pré-campanha eleitoral. E não vai sair daí até, pelo menos, às eleições legislativas. Má sorte para António Costa que tem feito um esforço para remeter o caso Marquês para o domínio da Justiça. Na carta, o ex-primeiro ministro assegura que o seu processo "tem contornos políticos". Está escrito e permanecerá para memória futura.
É verdade que os portugueses não querem políticos perfeitos. Isso não existe. Mas esperam que aqueles que tomam conta do país sejam sérios e expliquem convenientemente as situações dúbias que vão surgindo pelo caminho. Passos e Costa devem fazer alguma aprendizagem a este nível. As meias-palavras e o silêncio apenas prolongam os assuntos delicados, subtraindo espaço para debater o que realmente interessa: a gestão da coisa pública.
Falta meio ano para eleger o próximo Governo. Até agora, nada sabemos daquilo que os principais partidos querem fazer com um país que viverá, nos próximos tempos, um período fulcral para se levantar de uma sufocante crise em que submergiu nos últimos anos. Este era o tempo para as direções dos partidos reunirem junto de especialistas ideias para um programa eleitoral consubstanciado em ideias exequíveis, inovadoras e ao serviço do desenvolvimento. Este era o tempo para as máquinas partidárias prepararem uma original e atrativa campanha eleitoral. Ora, neste tempo, os políticos parecem não saber sair do lamaçal.