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No cardápio de gestão de expectativas uma interrogação é normalmente colocada: a primazia deve ser dada às boas ou às más notícias?
A regra de uma sociedade construída por um sadomasoquismo a tender para o macambúzio dá, por norma, primazia ao nocivo. Próprias ou alheias, as desgraças tendem a ser mais mediatizadas. Há é quem considere cada vez mais contraproducente para o bem-estar geral o ritmo alucinante de prioridade dada a desgraças...
Óbvio: convém não meter a cabeça na areia como a avestruz.
Quando o Eurostat divulga os resultados, reportados a 2010, dos índices da pobreza na União Europeia e deles resulta um agravamento genérico da situação, dando-se a especificidade de ter passado para 25% o número de portugueses em situação de miséria ou em risco de exclusão social (2,693 milhões!), impõe-se a denúncia como ponto de partida para uma reflexão. Tanto mais aprofundada quando igualmente se verifica a existência de 1,2 milhões de portugueses longe do estatuto de mandriões ou do de desempregados e cuja situação deveria ser encarada como uma vergonha pelos governantes - os actuais e os das últimas décadas. De facto, mal vai um país quando dispõe de mais de um milhão de trabalhadores alvo de salários enfezados e cujo futuro é... nenhum.
O nível de miséria, dispondo de uma tendência para o agravamento, merece, pois, uma reacção - de preferência solidária.
Sendo salutar a existência de uma consciencialização para o agravamento das condições socioeconómicas, convém entretanto não entrar o país numa depressão colectiva.
Os comportamentos positivos merecem, pois, mais do que um simples rodapé noticioso. Exprimem, no fundo, frinchas de esperança. São bem-vindos enquanto alavancas potenciadoras de uma auto-estima em rarefacção generalizada.
Sim, são dois pequenos exemplos, mas não deixam de constituir-se em contributos para essa vertente positiva. Quando a cidade do Porto é internacionalmente distinguida pela eficiência energética dos seus edifícios, ficando à frente de metrópoles como Berlim, Estocolmo e Oslo, e simultaneamente alberga um "hostel" considerado por quem sabe como o mais limpo do Mundo, vale a pena esboçar um sorriso.
Assim como assim, Portugal é pobre mas dispõe, em alguns itens, do estatuto de limpo. E tem legitimidade para ambicionar melhorias...