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Uma florista recebeu uma chamada fazendo uma encomenda tão grande que a senhora achou que estavam a gozar com ela e desligou o telefone. Esta história, contada por Matos Fernandes, presidente da APDL, evidencia o impacto que o primeiro cruzeiro a partir de Leixões teve em alguns negócios e, ao mesmo tempo, antecipa os efeitos que o futuro terminal de cruzeiros poderá vir a ter. A maqueta do projecto é elucidativa: o edifício parece um detalhe quando comparado com o tamanho dos barcos - mais de mil tripulantes para cerca de dois mil passageiros. O Norte, para o qual o terminal é um instrumento estratégico, não tem, para já, ambição para escalas de mais de um dia. Pode oferecer visitas ao Porto, a Braga e Guimarães e ao Douro, tão logo o túnel do Marão esteja feito. O que mostra a importância de um poder próximo destas realidades para que se desenvolvam as estratégias adequadas. Mas, também, como é difícil a análise custo-benefício de alguns investimentos públicos e como, quando nos limitamos a fazer do futuro uma projecção do passado, podemos subestimar as oportunidades que um dado equipamento abre. Mais uma vez, não será quem está mais próximo que detecta mais facilmente essas potencialidades e cria as condições para as explorar?
O turismo é uma das actividades que pode impulsionar o novo Norte. O terminal de cruzeiros de Leixões é um factor importante. Como já o são, hoje, as corridas da Red Bull, sobretudo pela visibilidade que dão à cidade. Os passageiros do navio de cruzeiros e o seu operador serão, na sua maioria, estrangeiros. Tal como ocorre na Red Bull, ou nas corridas de automóveis, com jornalistas e equipas técnicas. As suas despesas equivalem a exportações, são riqueza trazida para a região e o país e não apenas redistribuída internamente.
Vale, pois, a pena olhar para outros eventos, como é o caso dos grandes congressos internacionais, que têm características semelhantes. As contas são fáceis de fazer. Um congresso com duas mil pessoas que dura três dias implica gastos com dormidas, alimentação, transportes, recordações, etc., feitos pelos congressistas e seus acompanhantes. É um mercado de que o Porto tem estado arredado. Não temos condições para acolher um evento dessa dimensão: o aeroporto é deficiente em ligações intercontinentais, a capacidade hoteleira é limitada e não há um espaço com capacidade suficiente. Para intervir neste mercado precisamos de alinhar a actuação de agentes diversos, desde a gestão aeroportuária à hotelaria e promoção externa. Pré-condição: um centro de congressos. Num mercado tão difícil, para o Porto ter hipóteses de sucesso, tem de oferecer o que tem de melhor: uma localização no centro histórico. É isso que torna, já hoje, a Alfândega ou o Palácio da Bolsa espaços pretendidos, embora com limitações de capacidade. A reestruturação do Palácio de Cristal, para aí alojar um centro de congressos, é crucial se quisermos intervir neste mercado e contribuir para a dinamização da cidade e a riqueza da região. Trata-se de um projecto melindroso, por mexer com um espaço único. É essa diferença que lhe dá a mais-valia. Ninguém de bom senso a iria destruir. José António Barros, um dos mentores do projecto, sabe isto melhor do que ninguém. A sua obra no Coliseu mostra a sua dedicação ao Porto. As preocupações de alguns cidadãos são legítimas, mas infundadas.
O Porto precisa de projectos destes como de pão para a boca, por ter bocas que precisam de pão. Que não se repita aqui a tontice da frente urbana do parque da cidade, um erro que, ainda hoje, andamos a pagar.