<p>O mau ensino da Matemática nas escolas portuguesas constitui umas das principais causas da nossa pobreza crónica. A repugnância que a disciplina provoca em tantos milhares de alunos está na origem da nossa deficiente estrutura de recursos humanos. São muitos os estudantes que, em cada ano lectivo, mudam de área de estudo para evitar a Matemática. Esta fuga em massa tem como consequência um desinteresse generalizado pelo ensino e está na origem do abandono escolar, do analfabetismo funcional e da falta de formação. E mesmo no grupo dos que concluem os estudos, verifica-se um excesso descomunal de profissionais nas áreas humanísticas, gerador de desemprego e frustração, quando, por outro lado, há uma enorme carência nas ciências e nas tecnologias. Bastará notar que não há, por regra, engenheiros, físicos ou químicos sem trabalho, enquanto é calamitosa a saga do desemprego nas áreas humanísticas. Muitos destes são até jovens cujas primeiras vocações seriam as áreas científicas, que tiveram de abandonar para fugir à Matemática. E, pela mesma razão, até no mercado de trabalho há uma quantidade imensa de profissionais com vocação errada que, insatisfeitos, produzem pouco e mal.</p>
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A origem da maleita reside numa total incapacidade da maioria das escolas em proporcionar um bom ensino de Matemática, aliada a programas completamente desadequados. Apesar de integrar muitos e bons docentes, o sistema claudica às mãos duma minoria de professores sem qualidade, cuja incompetência provoca danos irreversíveis. Porque os conteúdos matemáticos se transmitem exclusivamente na escola; e também porque os conhecimentos nesta disciplina são adquiridos de forma sequencial, em cadeia - quem encontrar pela frente um fraco professor deixa de possuir os requisitos prévios mínimos para avançar, ou seja, as bases, e cessa então de forma abrupta o seu processo de aprendizagem. Sem qualquer culpa, e sem bases, os estudantes são afastados de forma definitiva da Matemática, passando a odiá-la.
Neste sistema absurdo, os alunos são afinal os menos culpados, os últimos dos responsáveis.