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Não estamos em período eleitoral. E suponho que seja essa a principal razão para que tenha passado de forma discreta (mais uma vez) a informação de que a Região Norte continua a ser a mais pobre do país e uma das mais pobres entre as 276 regiões da União Europeia.
Os dados são do Eurostat e revelam o desequilíbrio habitual de um país em que apenas uma região - Lisboa - consegue atingir um patamar de riqueza acima da média. No caso concreto do Norte (e tendo em conta o PIB per capita em paridade de poder de compra), fica-se pelos 65%, ou seja, a 35 pontos da média europeia e a 41 pontos da Região de Lisboa.
Note-se, no entanto, que este ranking da agência europeia de estatística se faz em euros. A moeda com que todos - seja o habitante de Lisboa, seja o do Norte - pagamos as contas. E o que se verifica é que, em média, um lisboeta dispôs, no ano passado, de uma riqueza equivalente a mais de 29 mil euros, enquanto o habitante do Norte não chegou aos 18 mil euros. São mais de 11 mil euros de diferença.
Olhando para o problema ainda de outra forma, conclui-se que a Região de Lisboa é a única do país em que se atingem níveis de riqueza à altura dos países mais desenvolvidos do Norte da Europa. Ao contrário, o campeonato do Norte (bem como o da Região Centro, do Alentejo, da Madeira e dos Açores), é bem diferente: a liga dos últimos joga-se com as regiões mais pobres da Polónia, da Bulgária, da Hungria, da Grécia e do Sul da Itália.
Mesmo quando comparamos a situação portuguesa com a vizinha Espanha, não encontramos consolo. Com a exceção das regiões da Extremadura e da Andaluzia, a distribuição de riqueza no país vizinho é bastante mais equilibrada do que a nossa. É certo que a capital, Madrid, é a mais rica (e é assim em quase todos os países da União), mas é possível encontrar pelo menos mais cinco regiões com uma riqueza média igual ou superior à europeia. Até a vizinha Galiza, há alguns anos tão pobre como o Norte (talvez até mais), se vai aproximando dos padrões médios de riqueza da União Europeia (marca agora 80%).
Não estamos, no entanto, em período eleitoral, dizia. E essa parece ser a única altura em que o tema interessa a alguns atores políticos regionais, sobretudo os que estão na oposição e ambicionam conquistar o poder. Fica sempre bem na lapela acentuar a preocupação com a desigualdade entre as diferentes partes do país e porventura relembrar a necessidade de avançar com a regionalização, como instrumento de combate a esses desequilíbrios. Sem excessos, no entanto, que ninguém quer correr o risco de ser considerado um provinciano, comprometendo uma carreira política fulgurante... em Lisboa.
EDITOR-EXECUTIVO