"Shoplifters" é um dos filmes mais interessantes do ano. É, antes de tudo, feito de interpelação, matéria essencial da arte, que nos faz admitir hipóteses contra a nossa convicção individual sobre o correto.
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Põe-nos em situação involuntariamente subversiva: o preconceito inicial sobre aquela triste família é afinal bem melhor do que a terrível realidade que por fim se revela.
O que Hirokazu Koreeda faz é trocar-nos as voltas, com o retrato minucioso daquela casa pobre, em que a sobrevivência é garantida recorrendo a pequenos roubos e outros esquemas perdoáveis para sobreviver. Acontece que se vai percebendo que nenhum dos laços familiares é real e que aquele conjunto de pessoas está afinal seguro apenas por um fio de humanidade, tão calorosa quanto cruel, tão verdadeiramente dedicada como mentirosa.
É difícil não gostar daquelas pessoas, apesar de tantas escolhas erradas, e é mesmo possível encontrar o Bem, ainda que no logro. Há aqui outra lição: não se deve nunca desprezar o poder silencioso da pobreza, nem o que faz ao Homem, nem até onde o pode levar.
Jornalista