Pode parecer chocante tentar descobrir algum aspeto positivo nesse panorama de desgraças que é a guerra da Ucrânia. Mas desde logo há que tentar ser realista e, como dizia o meu amigo Rui Zink, se a guerra se desenrolasse na Península Ibérica, certamente a Ucrânia estaria solidária, mas os ucranianos não deixariam de ir fazendo a sua vida.
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Apesar do fenómeno da globalização e das imagens horrorosas que nos dias de hoje são visíveis em todos os quatro cantos do Mundo, graças às novas tecnologias, a verdade é que as várias guerras que estão ativas, não sendo mundiais, podem afetar meio mundo, mas não o paralisam. Se me permitem a insistência nesta questão, eu diria que a vida e as vidas de muita gente acabam ou mudam radicalmente no terreno das guerras, mas fora dessas zonas a vida e as vidas dos países e povos não envolvidos também pode mudar aqui e ali, mas efetivamente continuam.
Temos que ser realistas e perceber que na Europa e na NATO têm acontecido muitas mudanças negativas, nomeadamente no impacto económico e nos brutais aumentos de preço das fontes de energia e de muitas matérias-primas, mas "à la longue" consigo descortinar pelo menos um aspeto positivo (ou, vá lá, para os mais sensíveis, um aspeto menos negativo) ao fim destes mais de cinquenta dias de guerra na Ucrânia. Esse aspeto está intimamente relacionado com estes mais de cinquenta dias em que Putin e a sua suposta fabulosa força militar não foi capaz de tomar conta da Ucrânia como se propôs e anunciou solenemente. Somando a estes quase dois meses de combates, os avanços e recuos das tropas russas, as enormes baixas sofridas (onde se incluem já muitas altas patentes)?e a flagrante inépcia e desorganização dos militares no teatro de guerra, é legítimo começar a pensar que afinal o Ocidente podia ter uma imagem errada e sobrevalorizada do poderio militar à disposição de Vladimir Putin.?
Sem descurar e nunca menosprezar os arsenais ainda em reserva de armas químicas e nucleares, a verdade é que em quase tudo aquilo que se viu até agora é permitido pensar que o extraordinário poder militar russo está muito próximo de um grande bluff.
Tendo a certeza que os especialistas militares e os mais altos comandantes da NATO ainda disporão de informações seguramente muito mais precisas e qualificadas do que aquelas que têm vindo ao domínio púbico, acho possível que a NATO esteja hoje um pouco mais aliviada. E certamente a pensar que se a Rússia em mais de cinquenta dias não conseguiu dominar a Ucrânia, não se percebe como é que pode alguma vez tão cedo lembrar-se de afrontar um qualquer país da NATO.
*Empresário