O Governo prepara-se para formalizar a instalação no Montijo do segundo aeroporto de Lisboa. É uma boa decisão. Esperemos que o mesmo equilíbrio e sensatez na gestão dos dinheiros públicos sejam utilizados para evitar o ruinoso investimento que seria a construção do terminal do Barreiro.
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Em 2007, a Associação Comercial do Porto encomendou um estudo sobre os aeroportos nacionais. O objetivo do meu antecessor era demonstrar a irracionalidade da construção do aeroporto da Ota, que se preparava então para arrancar, quando havia alternativas viáveis a um preço infinitas vezes mais baixo. Com o estudo "Portela + 1", levado a cabo por Álvaro Costa e Álvaro Nascimento, Rui Moreira e a Associação Comercial do Porto contribuíram decisivamente para que o país se poupasse à megalomania da Ota e ao desperdício de 3,6 mil milhões de euros. E a nova pista, como há dez anos defendemos, vai resultar da adaptação da base militar do Montijo.
O estudo e a posição pública da Associação Comercial representam algo que é a sua missão central: contribuir para o desenvolvimento e para a decisão informada e esclarecida. Do Porto e do Norte para o país. Do qual, por igual, todos somos parte. Não se trata de fazer política, trata-se de acrescentar valor, representar a sociedade e melhorar a qualidade das opções estratégicas.
A preocupação que tivemos em 2007 é a mesma que temos, atualmente, quanto à política portuária nacional e à intenção assumida pelos governos (este e o anterior), de avançar com a construção de um terminal de contentores no Barreiro. A mesma equipa que realizou o "Portela + 1" foi incumbida pela Associação Comercial de estudar a realidade dos portos portugueses, analisando as perspetivas futuras.
Constata-se que os planos para o terminal do Barreiro custarão perto de mil milhões de euros, com elevados encargos de operação. Ao mesmo tempo, portos com forte potencial de crescimento, como Leixões e Sines, carecem de investimentos, estes sim justificados, equilibrados e racionais, e cujo retorno económico é seguro.
O Estudo dos Portos da Associação Comercial - profundo, objetivo e esclarecedor -, foi enviado à senhora ministra do Mar em meados do ano passado, que não se dignou sequer a acusar a receção do mesmo. Nada nos orgulha ter razão antes do tempo, como se verificou quanto à Ota. Orgulha-nos bem mais ajudar o país a tomar decisões ponderadas e corretas. Orgulhar-nos-ia mais ainda que o poder político não continuasse fechado sobre si mesmo, permeável aos lóbis de sempre e insensível aos contributos da sociedade civil. Podem fazer o favor de poupar mil milhões de euros? Era só essa a questão.
* EMPRESÁRIO E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PORTO