Poderemos rejuvenescer os professores do Ensino Superior?
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Os professores constituem uma classe envelhecida. Do Ensino Básico ao Ensino Superior. Nos ensinos universitário e politécnico, o rejuvenescimento é uma tarefa dedálica, porque, a cada concurso público que se promova em “Diário da República”, o respetivo edital integra exigências de tal ordem que só um candidato com vasto conhecimento científico e alguma experiência pedagógica consegue alcançar o lugar. Normalmente, alguém já com uma certa idade, claro.
Hoje a vida de um docente do Ensino Superior público começa depois de realizado um doutoramento. Há uns 30 anos, quando ingressei na carreira universitária, concorri a um concurso para assistente estagiário/a, um lugar disponível para aqueles que apenas tinham uma licenciatura. Naquela altura, a nossa idade confundia-se com a dos estudantes. À inexperiência que naturalmente evidenciávamos, sobrepunha-se uma enorme vontade de dominar vários campos disciplinares da nossa área científica, o que multiplicava as possibilidades práticas de criar grupos onde houvesse mais necessidade. Aceitávamos com enorme motivação as disciplinas que nos entregavam sem reivindicar unidades curriculares ou desenhar programas que correspondem mais aos nossos interesses do que ao dos estudantes e despendíamos impensáveis horas na investigação que desenvolvíamos sem nunca sentir por perto a rivalidade dos pares. Atualmente o ambiente é outro.
Quem agora concorra a um lugar de professor auxiliar numa universidade pública enfrenta, nesse concurso, vários concorrentes e cada um deles apresentará no seu CV diversos artigos publicados em revistas indexadas, muitas comunicações em conferências (inter)nacionais, algumas orientações e a lecionação de uma ou outra unidade curricular que se fez normalmente em regime de acumulação com uma qualquer bolsa de investigação. Para ser competitiva, uma candidatura deve engrossar esses dados em termos quantitativos e tal apenas se torna possível com a passagem dos anos. Neste contexto, é muito difícil contratar alguém com menos de 35 anos.
Por outro lado, nos últimos anos, universidades e politécnicos estagnaram na abertura de vagas, quer nas categorias iniciais quer nas restantes. E isso tem paralisado enormemente os professores do Ensino Superior. A solução não é simples, mas precisamos mesmo de repensar o modo como elaboramos os editais. Em todas as categorias. Porque assim não premiamos os melhores. Apenas deixamos entrar quem se adapta a um sistema com muitas disfuncionalidades.