A notícia planetária dos últimos dias prende-se com um jogo, mas não tem o Cristiano Ronaldo nem os seus companheiros como heróis, o que em Portugal pode parecer estranho, mas no resto do Mundo é encarado com naturalidade. O jogo, apesar de ter uma bola, não se chama futebol, chama-se Pokemon Go e transporta os conhecidos bonecos da série de televisão para a realidade através dessas consolas portáteis que são os telemóveis.
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Para justificar este sucesso planetário, deve haver aqui uma ponta de nostalgia de quem cresceu com esses bonecos, misturada com essa novidade que é podermos encontrar virtualmente esses bonecos em qualquer local do mundo real e tentar capturá-los.
Neste mundo em que o real e o ficcional se misturam, com o sol a dizer férias por todo o lado, também eu fui atingido e começou a apetecer-me arranjar um jogo desses, mas que, com alguma adaptação, nos ajudasse a apanhar outro tipo de "monstros.
É que nos últimos tempos a minha realidade planetária tem sido assombrada por alguns destes monstros que, para dificultar a vida, não se parecem com os antigos vilões, tipo Putin ou Obiang, que se escudam na democracia mas são muito fáceis de localizar. Estes vivem bem com regimes democráticos a sério, respiram-no e surgem como seus protagonistas. Só que, tal como os pequenos monstros da Sega, eles são capazes de evoluções que vão abrindo caminho ao populismo mais desabrido, minando o regime que é suposto defenderem.
Apontemos, por exemplo, a nossa "pokebóla" para Durão Barroso. Atenção que ele hoje é primeiro-ministro, rececionista de cimeiras de guerra e amanhã transforma-se em presidente da Comissão Europeia, para logo a seguir assumir a sua evolução máxima como presidente não executivo da Goldman Sachs. Pelo caminho dá razão a todos os que pensam que "estes políticos são todos iguais" e argumentos às franjas mais extremas que julgam que a União Europeia está capturada pelos interesses dos grandes grupos financeiros.
Ou então visemos Boris Johnson, que já foi mayor de Londres, incentivador de campanhas contra emigrantes e que, num instante, é capaz de se transformar de candidato a líder conservador em ministro dos Negócios Estrangeiros. Cuidado que ele consegue usar um instituto da democracia, o referendo, para causar estragos irreparáveis.
E Trump? Infelizmente não faltam exemplos. O que nos falta cada vez mais é um jogo que nos ajude a equilibrar as hipóteses de conseguirmos chegar a um final feliz. Talvez as férias ajudem.
* SUBDIRETOR