Agosto é, por tradição, o mês em que redescobrimos os nossos emigrantes e lhes dizemos sejam bem-vindos. Desta vez, a atenção merece ser redobrada por efeito do desemprego e da carência de oportunidades de trabalho que em 2012 atiraram para fora de Portugal 121.400 compatriotas, mais 20.500 do que em 2011, ano em que, pela primeira vez, o recorde de 120.200 emigrados de 1966 foi ameaçado.
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Quando já parecia uma velharia do museu da história, esse recorde do tempo da ditadura caiu. Por motivos que não são os mesmos de então, mas caiu...
Por isso, importa olhar este novo êxodo com todo o cuidado, percebendo que ao nível absoluto de compatriotas que não encontram resposta profissional no país há que acrescentar o facto relevante de boa parte da ausência de oferta de trabalho se refletir bem para além dos chamados indiferenciados, que constituíram a grande coluna de emigrantes dos anos 60 do século passado.
Agora, médicos, engenheiros, enfermeiros, por exemplo, figuram entre os atingidos pela necessidade de abandonar Portugal. O que acrescenta - provavelmente por muitos anos - perdas de valor acrescentado para a nossa economia. Por muito que parte dessas perdas possa estar a ser de algum modo compensada pela imigração de cidadãos de países do Leste europeu cujo nível médio de ensino compete com o nosso.
Tanto como olhar com olhos de ver para o novo êxodo, torna-se imperioso transformar a tradição deste caloroso acolhimento de agosto numa relação de permanente proximidade entre Portugal e os seus emigrantes. E, para ser eficaz, esse novo relacionamento terá de ter a terra de cada um como âncora.
Claro que é importante que continuemos a dar-lhes as boas-vindas, que lhes entreguemos informações úteis, designadamente sobre cuidados de trânsito, e sobretudo lhes asseguremos férias em perfeita segurança. Ai do dia em que os nossos emigrantes não possam continuar a gabar-se da nossa paz, do nosso sol, do nosso mar e da nossa comida.
No essencial, é este conjunto de virtudes naturais que faz com que tenhamos regularmente entre nós os emigrantes já nascidos nos países que acolheram os pais e os avós.
Para estes que voltam a Portugal de férias batalhando contra o peso dos sotaques das línguas adotivas, vai ser necessário que as raízes exóticas se transformem em terra lavrada, em motivação para o investimento familiar. De outro modo, o apelo da terra-mãe que passou de geração em geração acabará por se quebrar.
Só com políticas de proximidade manteremos o contacto. Com os que ainda voltam carregados de sotaque e com os deste novo êxodo que, por terem qualificações, se sentirão menos desenraizados.
É preciso inventar essas políticas.