No dia em que mais uma edição dos Jogos Olímpicos chegou ao fim, o presidente do comité português anunciou, uma vez mais, que vai abandonar o cargo apesar de considerar "positiva" a prestação nacional em Londres.
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Por muito diplomáticas que tentem ser as palavras de Vicente Moura, a verdade é que os portugueses viram muito pouco de "positivo" sair do final das provas das mais de sete dezenas de atletas que levámos ao Reino Unido.
Há exceções, naturalmente, com destaque para os canoístas minhotos Fernando Pimenta e Emanuel Silva que salvaram a honra lusitana ao conquistar a medalha de prata. É certo que outros atletas superaram os seus recordes, mas as vitórias individuais não chegaram para inverter uma tendência que se tem acentuado nos últimos anos: Portugal é cada vez mais insignificante nos Jogos.
Sabe-se da nossa história recente quanto os diplomas são reconhecidos pelas elites nacionais, mas é perigoso que nos Jogos quase só nos congratulemos por conquistar tal canudo enquanto as medalhas continuam a ser uma miragem. É, no entanto, injusto culpar o Comité Olímpico ou mesmo os atletas por este estado de coisas. A definição da política de desporto é da responsabilidade do Governo e sendo certo que o alto rendimento dos atletas não depende exclusivamente das verbas destinadas à alta competição, não é menos verdade que em tempos de crise os orçamentos para a prática desportiva vão certamente emagrecer e consequentemente agravar a situação.
Esta é, no entanto, apenas uma parte do problema. A Lei de Bases que rege o desporto em Portugal confere identidades próprias ao desporto escolar e à alta competição e mais grave do que esta separação é o completo divórcio entre os dois subsistemas.
O Desporto Escolar, o verdadeiro viveiro de atletas de um país, continua a desenvolver-se fechado sobre si próprio, sem qualquer ligação às federações das modalidades, desbaratando potenciais talentos, apesar do bom trabalho que se produz em muitos estabelecimentos de ensino. A articulação entre escolas e competição é um trabalho de base do qual não se obterão resultados numa legislatura nem nos mesmos quatro anos que separam uma e outra olimpíadas. Mas enquanto nada for feito, os pouco mais de 400 mil atletas federados em Portugal vão certamente tornar-se cada vez menos e nós vamos ser mais e mais insignificantes no panorama desportivo mundial.
Outro caminho possível é o já aludido por Vicente Moura que lembra a existência de "muitos atletas africanos que querem vir para a Europa". Dá até o exemplo da Espanha onde, segundo refere, "mais de 30 por cento dos atletas não nasceram no território".
À falta de políticas sólidas e estruturadas, esta pode até ser uma estratégia para que no Rio de Janeiro, em 2016, possamos escutar o nosso hino. Mas continuaremos a ser, também desportivamente, um país mais pobre.