Um Governo ideal deve ter mais ou menos ministros políticos? Os técnicos, eventualmente independentes, deveriam predominar? A resposta é bem mais complexa do que possa parecer. Depois de ter dado posse a Manuel Pizarro como ministro da Saúde, António Costa sentiu a necessidade de afirmar publicamente que estranho seria se tivesse escolhido um "adversário do PS" e não um elemento do partido para o cargo deixado vago por Marta Temido.
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Um interessante estudo académico de 2020, intitulado "Ministros portugueses como sobreviventes políticos: uma análise empírica dos primeiros 20 governos constitucionais", comprova por via estatística algumas impressões de que muitos de nós já temos a perceção: os primeiros-ministros sobrevivem melhor quando há maior abundância económica e os seus ministros mantêm-se mais tempo em funções quando há maiorias parlamentares robustas. Mas há outros factos curiosos. "Ter tido experiências ministeriais anteriores é uma variável importante para o aumento do tempo acumulado no cargo, significando que os "animais políticos" tendem a ter maiores hipóteses de serem convidados (e, muitas vezes, convidados novamente) para exercer funções ministeriais", refere o estudo.
Manuel Pizarro é um quadro político do PS. Simultaneamente, o cariz técnico do novo titular da Saúde não estará em causa, uma vez que é médico. Será ele o paradigma do ministro ideal, ao juntar a fidelidade política ao PS às suas competências profissionais no setor que agora vai liderar? Convém recordar que uma das últimas remodelações retirou Jamila Madeira, economista com largo passado nas fileiras socialistas, do cargo de secretária de Estado Adjunta e da Saúde, para aí colocar Lacerda Sales, um médico que conhecia profundamente o SNS. A governante eiminentemente política deu lugar ao técnico. Será possível juntar os dois perfis, garantindo-se, desse modo, consistência (política) e competência (técnica)?
*Editor-executivo-adjunto