A invasão militar da Ucrânia e a brutalidade das imagens que todos os dias nos entram pelas televisões e redes sociais quase fizeram esquecer a vida política interna e o antes tão debatido impasse rumo a um novo Parlamento e um novo Orçamento do Estado. Quase não se fala sobre a votação que está a ser repetida no círculo da Europa, e o funcionamento minimalista da Assembleia da República contribui para a ausência de discussão sobre a governação e a preparação de respostas adequadas à crise que vamos viver.
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Essa invisibilidade não apaga nem adormece problemas que não são sequer latentes. Estão à vista nos bolsos dos portugueses, que sentem diariamente a fatura nos combustíveis, na energia ou nos bens alimentares, mas estão ainda mais expostos na administração local. Como o JN noticiou ontem, as autarquias estão a sentir o estrangulamento causado pela escalada de preços. Não apenas na gestão corrente, da iluminação ao fornecimento de refeições escolares, mas também em obras públicas cujos concursos ficaram desatualizados, o que torna impossível cumprir metas e projetos com financiamento comunitário.
Todos nos lembramos de ouvir dizer que o PRR seria a última grande oportunidade para Portugal apanhar o comboio europeu. Acontece que não apenas o novo contexto económico ameaça a capacidade de execução do PRR, como muitas das prioridades definidas já se tornaram desajustadas face à realidade. Os novos tempos vão exigir novas respostas e recursos, e quanto mais rápida for a reação dos nossos líderes, maiores serão as possibilidades de minimizarmos o impacto económico e social de uma guerra de desfecho ainda totalmente imprevisível.
Algumas soluções serão necessariamente desenhadas à escala europeia. Mas também dentro de portas se exigirá o reajustamento de políticas e a articulação estreita entre poder central e local. Os municípios precisam de um novo quadro de ação já, mais ainda se não quisermos travar o comboio da descentralização. É exatamente em momentos de crise que se vê a capacidade de liderança, a flexibilidade e o espírito de inovação de quem desempenha funções públicas. Precisamos de políticos à altura dos desafios.
Diretora do JN