Pontes de(o) conhecimento fazem futuro – 12 de outubro "Fogo! Fogo!"
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No rescaldo de uma inusitada celebração da República, pois podia haver a tentação de escorregarmos para discursos pobres, estamos no caminho apressado para escolher os nossos líderes mais próximos. O tão apelidado Poder Local democrático terá rostos mais ou menos conhecidos, que irão (re)começar a caminhada.
Este momento é de grande relevo, pois cada vez mais as (in)decisões locais impactam diretamente na nossa qualidade de vida. As lideranças locais são aquelas que melhor podem pugnar pela defesa dos territórios, pela redução de assimetrias, por um certo (re)equilíbrio entre o que Lipovetsky apelida de "individualismo de singularidade", face à necessidade de lideranças com visão de território, de cidade, de coletivo, de colaboração, de modernidade, de conhecimento, de futuro.
Há cada vez menos isolacionismo ideológico, o que não deve significar a perda de valores e o abdicar dos pilares sociais que nos caraterizam enquanto país. Estou certo de que dois dos maiores desafios serão o de lidarmos com uma incerteza muito maior do que aquela a que estávamos habituados e ainda o de viver com uma liberdade democrática na sua conceção mais moderna - onde há uma dissociação entre quem ganha ou quem perde e a razão ou a falta dela -, que é a tentação dos "caçadores de sonhos". Estes desafios, que se multiplicam, considerando as perceções e realidades de cada território, têm de ser ganhos com mais e melhor conhecimento, num trabalho em rede sério, sem amarras, nem muros. O Ensino Superior tem feito o seu papel, de Norte a Sul, do Interior ao Litoral. Urge ir mais além! Precisamos de políticas supraconcelhias mais articuladas e verdadeiramente dialogantes. Continuamos a ter muros, que muitos tentam alagar em populismos fáceis. Deixo um apelo aos/às presidentes que serão eleitos/as: construam políticas negociadas com os cidadãos e com as instituições, em especial as de Ensino Superior, porque são aquelas que apoiam, diria de forma mais evidente, a transformação de uma visão de cidade numa realidade.
Não há um votar bem ou mal, como refere Innerarity. Porém, não sejamos meros espectadores - já Kierkegaard nos alertava na intrigante anedota em que, num teatro, o palhaço grita "Fogo! Fogo!" e todos se riem ignorando que o incêndio é (pode ser) real.