Pontes de(o) conhecimento fazem futuro – sem espaço para falhar
No dia 31 de maio foram publicados os resultados finais das eleições legislativas. A palavra mais ouvida, ainda hoje, é “surpresa”. Eu diria que, se escutássemos mesmo as pessoas, seria “falta de confiança e de esperança”. O mapa mudou radicalmente, as ideias simples fazem caminho, mesmo quando não são verdadeiras soluções.
Há uma dúvida que paira no panorama político global: a democracia como a conhecemos estará a passar por uma espécie de sonambulismo coletivo, muito incentivado pelas lideranças partidárias e pelas elites atuais, ou há uma servidão voluntária pelas traduções indiretas de um justicialismo social? De forma mais simples, há uma desconfiança e descrédito generalizados, uma espécie de crepúsculo que assombra a democracia?
É perante esta dúvida que, para mim, se materializa a necessidade imperiosa de “não falharmos”. Não há espaço para “vamos ver se funciona”. Não! Mais do que nunca, as pessoas, o país, precisam de voltar a ter confiança, de perceber as políticas e as opções. Hoje, aquando da primeira reunião magna, os 230 deputados à Assembleia da República devem, em cada ato, palavra e comunicação ao país, considerar que, como referiu Jacques Rancière, “a política não é o exercício do poder em geral, mas sim o exercício do poder ligado à capacidade de perceber e de formular o que é comum a uma comunidade”. Este pensamento deve ainda nortear o exercício do próximo Governo e da Oposição. Não precisamos de crispação, exigimos decisões ponderadas, partilhadas e capazes de fazerem a diferença nas nossas vidas.
Os desafios são muitos, desde logo no Ensino Superior: sistema de financiamento, rede de IES, ação social robusta e ativa, modernização de instalações e equipamentos (que falta faz um verdadeiro PIDDAC), inovação no ensino, melhoria dos níveis de formação, ligação com as empresas, tantos outros. Deixo um indicador, diria devastador, para a nossa sociedade: segundo o Banco de Portugal, 90% dos filhos de famílias pobres não chegam ao Ensino Superior, sendo que 70% a 75% da redução de pobreza é explicada por melhores níveis de educação.
A espessura e a densidade dos problemas atuais obrigam a uma nova forma de fazer, a uma espécie de crepúsculo do mau passado, a uma aurora sem espaço para falhar.

