Por cá (ainda) não sentimos muito, mas as frentes populistas estão hiperativas em várias geografias europeias. Em Itália, o belicoso Mateo Salvini, o líder da Liga que chegou ao Governo e quer revolucionar a União Europeia, tem em preparação várias estratégias. Dentro e fora do país. E conta em França com uma aliada que vem conquistando cada vez mais seguidores: Marine Le Pen.
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Apesar de ser muitas vezes acusado de populista, Marcelo Rebelo de Sousa tem ajudado a travar tentações mais extremistas. Porque chama para junto de si o cidadão comum e, com sucessivos gestos de proximidade, ocupa um espaço que a extrema-direita costuma tomar de assalto. Porque, através dos seus discursos, vai colocando no espaço público os riscos que esses movimentos representam para a democracia. No entanto, isso não significa que não haja interstícios por onde a extrema-direita possa ir furando. Esta semana, dados do Eurobarómetro sobre a opinião pública portuguesa revelam que apenas 17 por cento dos cidadãos do nosso país confiam nos partidos políticos, subindo essa percentagem para 43 por cento quando se trata do Governo. Penso que estes números deveriam suscitar uma profunda reflexão em todas as forças partidárias. Porque estão hoje os portugueses desligados da política? Por razões várias. Enunciemos algumas: porque a política não se ocupa dos problemas das pessoas, porque os políticos estão afundados em sistemas autotélicos que os impedem de conhecer o país real, porque a política não chama a si os melhores de nós... Que ninguém esqueça que é explorando estas debilidades que os movimentos extremistas costumam abrir caminhos e de nada serve pensar que o sistema mediático, através do trabalho jornalístico expurga malfeitores. Nos dias que correm, as redes sociais popularizam quem nelas se mexe com agilidade, independentemente dos seus propósitos...
O caso da Itália é paradigmático. Fazendo a capa da edição desta semana da revista francesa "L"OBS", Mateo Salvini não esconde que ambiciona ser primeiro-ministro no seu país e tornar-se um líder incontornável na Europa, destruindo a União Europeia a partir do seu interior. Seria melhor tomar a sério as suas aspirações. O movimento que lidera, a Liga, tem subido substancialmente nas intenções de voto, ultrapassando já o Movimento 5 Estrelas com quem está coligado.
Em contexto pré-eleitoral, as movimentações de Salvini são muito significativas: reúne frequentemente com Marine Le Pen (não será por acaso que a cara de ambos está nos cartazes que a União Nacional já espalhou por França), criou no sul do seu país uma escola para populistas (Steve Bannon está a tratar de abrir uma academia nacionalista nos montes Erneci, perto de Roma, com o beneplácito do Governo e da ala mais conservadora da Igreja) e a sua agenda preenche-se com viagens a terrenos estratégicos, como a Polónia... No Twitter tem mais de três milhões de seguidores e por onde passa não desperdiça a oportunidade de tirar selfies, sendo já conhecido como Selfini...
Em contexto europeu, o líder mais atento aos riscos que representa esta aliança Salvini-Le Pen é naturalmente Emmanuel Macron. O presidente francês sabe que já não pode contar com o eixo franco-alemão, outrora poderosíssimo, mas atualmente sem grande força. Também percebeu que, no interior do seu país, há forças de bloqueio que ameaçam a sua liderança, como já demonstraram as sucessivas manifestações dos "coletes amarelos". A este enfraquecimento de países outrora estruturantes da União Europeia, somam-se a indefinição do Reino Unido e a erosão dos partidos tradicionais em várias geografias europeias. Tempos perigosos estes que se avizinham...
*Professora Associada com Agregação da Universidade do Minho