<p>Acorda hoje a cidade certamente com a esperança de ter um final de dia feliz. Os diabos vermelhos do Manchester, que andam já por aí desde ontem, poderão ser as testemunhas credíveis da categoria de uma equipa que os adeptos sonham ver subir outra vez na Europa. Portistas e muitos portuenses apostam nesta alegria para logo à noite. O Porto profundo ama o seu clube. Estão de volta as grandes noites europeias (dá-me gozo usar esta expressão, quando eu era pequeno ela só fazia cabimento em Lisboa); está de volta a alegria capaz de, por um par de horas, nos fazer esquecer crises e deflações. Os sinais que saem do estádio do Dragão, independentemente de chegarem ou não para vencer Rooney, Ronaldo, Giggs e companhia são os de sempre: trabalho e competência. É por haver competência de quem faz prospecção que alguém percebeu que Chissoko poderia ser o defesa que faltava; e é por haver muito trabalho que ele consegue ser esse tal defesa. É um exemplo entre muitos. O FC Porto poderia ser um modelo para outros clubes nacionais. Mas eles preferem partir do princípio de que no FC Porto tudo é falso, porque tudo é comprado. Ano após ano, a realidade desmente-os, mas eles vivem e alimentam essa mentira. Muitos desses terão acordado hoje desejando que os diabos de Manchester esmaguem o FC Porto, mal cuidando que os portistas estão numa fase da prova a que eles ou nunca chegaram ou já nem se lembram de ter chegado, independentemente do facto de, como sucede há anos, as vitórias portistas até abrirem portas europeias aos seus adversários internos. </p>
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Exceptuando a selecção de Scolari - não por acaso maioritariamente assente em jogadores que foram campeões europeus no FC Porto - o futebol português vive nos últimos anos sobretudo do trabalho desenvolvido nas oficinas do dragão. E se, sem a paixão clubista que enviesa as análises, se tentar perceber porquê, bater-se-á sempre nessas mesmas teclas: trabalho e competência. A alegria que ao fim da tarde encherá as ruas de acesso às Antas e fará transbordar a estação de metro fronteira ao estádio é feita de gente que sabe de cor esta máxima, de gente que sabe que ali está um oásis que marca a diferença com a cidade e o país, de gente que aprendeu com a sua equipa a tornar-se exigente a ver futebol. Exige-se qualidade.
EDP, BIAL, YDREAMS, GALP são alguns dos outros pontos de luz no túnel em que o país mergulhou, e era bom que tudo o que tem sucesso pudesse ser exaltado e servisse de exemplo e de estudo, criando-se condições para contaminações positivas de que o país necessariamente precisa para sair da crise. Afinal, há portugueses, aos mais diversos níveis, comandando ou sendo força de trabalho, que sabem fazer, e fazem bem. Se a crise servir para nos corrigir dos maus hábitos da inveja e da maledicência, alguma utilidade já ela teve. Ganharemos todos, se a sociedade portuguesa for mais receptiva ao sucesso do vizinho do lado e se aproveitarmos o sentido crítico apurado sobretudo para fazermos melhor.