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A invenção faz avançar o mundo e é bem-vinda, mesmo desejada, em todas as áreas da existência, excepto numa: o futebol. Os treinadores estão sempre a falar em processos, rotinas, dinâmicas, reclamando o tempo suficiente para as poderem trabalhar, e, depois, nos jogos decisivos, inventam uma disposição táctica nunca antes vista e que, inclusivamente, desloca jogadores das suas funções habituais. Foi o caso da equipa portuguesa no jogo de estreia do Europeu, com uma composição que ninguém percebeu, nem quando o selecionador a veio explicar. Os adeptos desconfiam muito destas iluminações repentinas dos treinadores. Quando, antes dos jogos, deparam com uma formação anómala da equipa, exclamam, desapontados: “Pronto, lá se pôs o treinador a inventar”. Para eles, as experiências fazem-se em casa, ou seja, nos treinos e nos jogos preparatórios, nunca em jogos importantes, menos ainda em fases finais. Vá lá, que apesar do desconcerto táctico, a equipa ganhou, mas deve-o aos deuses da bola, que estavam do nosso lado, e à infelicidade dos defesas checos.
Agora, espera-se que o seleccionador desça do delírio à realidade no jogo de amanhã, com a Turquia. Uma linha de quatro defesas, com Cancelo e Nuno Mendes nos seus lugares naturais, Palhinha na posição 5 e um sistema de 4-3-3. Já agora, que estou a pedir, mais tempo de jogo para Conceição e João Neves, que acrescentam rasgo e criatividade. Tudo menos pôr-se a imaginar cenas estranhas. Que alguém pregue na parede do seu quarto um aviso urgente: “Por favor, não invente!”