<p>Uma nova atitude, depois do "cartão amarelo" que o eleitorado lhe mostrou nas eleições europeias, é o mínimo que pode esperar-se do Governo e, desde logo, do primeiro-ministro. A constatação é elementar - dezenas de comentadores já a fizeram. Curiosamente, os mesmos que de forma mais ou menos categórica ainda não há duas semanas davam como adquirida a vitória do PS. </p>
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E se, por um momento, aceitássemos fazer um exercício de introspecção semelhante ao que sugerimos a José Sócrates? Se todos nós, jornalistas e comentadores encartados, reflectíssemos, humildemente, sobre as lições que também devemos retirar dos resultados do sufrágio do passado dia 7?
Não há memória de um único comentador que tenha vaticinado o triunfo do PSD, muito menos com a dimensão que adquiriu. Pelo contrário, a maior parte estava convencida de que as europeias seriam o Cabo da Boa Esperança de Sócrates, em vez do Cabo das Tormentas em que se transformou. O PS passava incólume e ganhava balanço para vencer as legislativas, após o Verão. Uma única dúvida - uma duvidazinha - restava: se os socialistas seguiam para nova legislatura com maioria relativa ou absoluta.
É inevitável recordar outra eleição, essa interna a um partido, que também revelou à saciedade como andamos distraídos ou quão deficientemente lemos os sinais que a sociedade vai emitindo. Há menos de um ano, era mais do que certo que Marques Mendes, às costas de supostos "notáveis" que supostamente representariam batalhões de militantes do PSD, humilharia Luís Filipe Menezes nas "directas". Mendes acabou por sair pela porta dos fundos, mas no dia seguinte poucos deram a mão à palmatória, reconhecendo o rotundo falhanço das previsões. Mantiveram-se imperturbáveis, passando à fase dos prognósticos no fim do jogo, evidentemente muito mais cómodos.
Já adivinho o argumento: a culpa é das empresas de sondagens, que só por acaso acertam e nos induzem a todos em erro. As sondagens têm as costas largas, sempre nos aliviam a consciência. Não podem é ser responsabilizadas pelas interpretações feitas das tendências que exprimem.
Há, efectivamente, ensinamentos a recolher, quando a realidade, com tanta evidência, contraria o que conjecturamos, como aconteceu nas "directas" do PSD e nas eleições europeias. Porque de duas uma (talvez até as duas em simultâneo): ou não somos de todo capazes de compreender o que sentem os eleitores ou eles formam opinião sem se deixarem influenciar pelas análises de jornalistas e comentadores. Como quem dispara a arma do voto são os eleitores....