Ser português, nos dias que correm, não é tarefa fácil, nem de muito orgulho. Porque quem supostamente nos governa anda de cabeça perdida. E a semana que agora finda foi particularmente rica em asneiradas.
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Do ponto de vista fiscal, vou apenas cingir-me ao dia de ontem. Os mesmos governantes que juravam a pés juntos que as novas regras de IRS entravam em vigor em Junho (corrigido o Julho) fizeram publicar em "Diário da República" - coisa de lei, diga-se - um despacho com as novas tabelas de retenção na fonte claro como a água: "O presente despacho produz efeitos no dia seguinte ao da sua publicação. 20 de Maio de 2010 - o ministro de Estado e das Finanças".
Ou seja, ontem. Sem a bússola por perto, José Sócrates rejurou a pés juntos que seria em Junho, remetendo para o despacho. 21 de Maio, portanto (?!). Já a barafunda ia ao rubro - por estes dias qualquer funcionário de uma repartição de Finanças ou de um departamento de recursos humanos deve estar próximo de uma síncope - quando o mesmo ministro que assina o despacho informa que a nova tabela deve ser considerada a partir de 1 de Junho.
Seria um erro banal, se não se somasse a tantos outros. Mas num Estado que se pretende credível perante os mercados internacionais, estes erros são fatais. Porque são sinal de desnorte e de quem anda a navegar à vista. Com a nossa vida, o que torna a situação ainda mais intolerável.
Por isso, escusa o primeiro- -ministro de vir dizer aos deputados que, no que concerne à lição Lisboa-Madrid em TGV, um porta-voz do Ministério do Fomento espanhol disse à agência noticiosa EFE que o acordo é para manter. Onde é que já se viu um primeiro-ministro usar em sua defesa um "take" de uma agência de notícias? Então o seu amigo Zapatero não lhe deu garantias?
Mas alguém acredita que Espanha vai conseguir construir mais de 300 quilómetros de ferrovia em tão pouco tempo? E quem irá assegurar-lhe o necessário financiamento privado? Quem diz Espanha diz Portugal. Nós, por cá, pelo menos entre Poceirão--Caia, andaremos a todo o gás. E teremos uma terceira travessia... sobre Madrid, só pode. Porreiro, pá!
P.S.: Cavaco Silva veio ontem invocar os seus 20 ou 30 textos para demonstrar que não está nada surpreendido com a situação do país. O que diria Jorge Sampaio? Perguntemos a Santana Lopes...