Gal Costa teve, para muitos portugueses, e durante muito tempo, um outro nome. Ela era a Gabriela. Era um tempo em que o Brasil era quase totalmente desconhecido para a esmagadora maioria dos portugueses. Ela foi a voz de uma nova descoberta.
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"Quando eu vim para este mundo, eu não atinava em nada, hoje eu sou Gabriela. Gabriela eh! Meus camaradas." Uma voz fresca, modinha melodiosa, feliz e convidativa, quase estridente para os padrões europeus, ela soava a futuro, ao ouvido e ao coração dos portugueses.
As palavras de Dorival Caymmi mostravam aos portugueses um mundo até então desconhecido. Portugal era conhecido por ser o país de velhas senhoras de bigode - chamado pejorativamente de "terrinha" - atrasado nos usos e costumes, sem autoestradas, sem universidades e sem vida cosmopolita. Viver era uma coisa que se fazia "habitualmente".
A televisão ainda era a preto e branco, mas logo a voz de Gal Costa e a história de Gabriela conquistaram os portugueses. Protagonizada por Sónia Braga, "Gabriela, cravo e canela", foi a primeira telenovela brasileira a ser emitida em Portugal onde se estreou a 16 de maio de 1977.
Foi nesse país que então parecia capaz de poder abraçar dois modelos incompatíveis de sociedade - ser simultaneamente quase 100% católico e 100% comunista - que a música brasileira e a inconfundível voz de Gal Costa também significaram liberdade. Hoje, quase meio século depois, Portugal é um país diferente onde a modernidade é o padrão e a democracia não é desafiada. Tem um dos mais altos níveis de desenvolvimento humano e transformou-se em objeto de desejo para muitos brasileiros.
Quem te batizou, quem te nomeou, nunca importou. É assim que és. Doçura de infância, saudade sem igual. Este é por ti, Gal.
*Presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos