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Em Portugal há mais telemóveis que portugueses. O número de aparelhos ativos já ultrapassa os 15 milhões e a taxa de cobertura de utilizadores da Internet atinge 70% da nossa população. As tecnologias estão a mudar as nossas vidas. E até a senhora minha sogra, que vai para os 95, acaba de ler "Os Maias" no kindle (leitor de livros digitais) e usa telemóvel para falar com a família.
Calcula-se que, em meados deste ano, quase cinco mil milhões de pessoas em todo o Mundo terão um telefone móvel, e três quartos da Humanidade estarão conectados até finais da década. Com a generalização das redes, o smartphone (telefone inteligente) é o emblema da quarta revolução, uma tecnologia tão disruptiva como a máquina a vapor na Revolução Industrial de há dois séculos. Adivinham-se mudanças de enormes dimensões que já se materializam em áreas como a realidade virtual, os automóveis autónomos (sem condutor), a robótica ou a Internet das coisas, a que permite que diferentes dispositivos (um telemóvel, o frigorífico ou o portão da quinta) comuniquem e interajam entre si sem a intervenção humana.
Entre as novidades de um congresso que reuniu esta semana os gigantes mundiais destas indústrias estão, por exemplo, as mudanças que aí vêm em matéria de mobilidade, associando o desenvolvimento das tecnologias do telemóvel às do... automóvel: Os automóveis do futuro estarão conectados à Cloud (nuvem), terão Wifi (Internet sem fios) e assistente de voz; a chave não será física mas digital e será possível enviá-la por telefone como se fosse uma simples mensagem para outro condutor; travarão automaticamente se detetarem um objeto fixo ou em movimento, um poste ou um ciclista; estarão programados para só passar semáforos no verde; e poderão estacionar com o simples recurso às teclas do telefone.
Parece não haver limites para a tecnologia aplicada à vida quotidiana. Na Suécia, por exemplo, os condóminos de um edifício inteligente aceitaram incrustar debaixo da pele, na mão, um minúsculo chip que lhes permite substituir a chave para abrir a porta de casa ou pagar a conta na pastelaria do bairro. É um chip de identificação por radiofrequência, do tamanho de um grão de arroz. E vindo o arroz à conversa, no exato momento em que a FAO previne que ainda há 700 milhões de pessoas a passar fome, no mesmo Mundo que desperdiça anualmente 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos, deixem-me confessar-vos quão estranho me soa que chamemos "inteligentes" aos dispositivos e às prioridades que inventamos para nos tornarmos mais desiguais.
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