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Suscitada que está a acesa polémica em torno da aprovação do Orçamento para 2011, um entendimento parece consensual: por um imperativo de vontade nacional, atendendo às actuais circunstâncias, o país exige um compromisso político e social sério e construtivo. Não se trata, como sustentam alguns, de impor um documento inegociável, mas sim de propor ao país, mediante uma escolha política legitimada e clara, que - face à fortíssima pressão e escrutínio dos mercados financeiros internacionais - a redução do défice público, e o consequente esforço pedido aos portugueses, se faça sem pôr em causa o Estado social.
E sendo este, por maioria de razão, um excepcional tempo de incerteza e desafios, esta previsão de afectação de despesas e receitas públicas exige de todos - em especial dos políticos, da Direita à Esquerda - elevado sentido de responsabilidade e patriotismo, arredando do cerne desta discussão insignificantes querelas partidárias.
Acresce que, para além da redução do défice, o que está em causa neste momento de resposta à crise financeira internacional é o nosso modelo de sociedade. Saber se querermos, ou não, salvaguardar - não obstante as adversidades financeiras - áreas sociais fundamentais como o Serviço Nacional de Saúde, a escola pública ou o sistema público de Segurança Social.
Enveredar pelo discurso apocalíptico, pela reivindicação irrealista ou pela agitação irresponsável não responde ao mais difícil: agir, fazendo o que há a fazer, preservando o Estado social e os seus valores, a democracia, e a sociedade e os seus equilíbrios e assegurando, igualmente, confiança no crescimento económico, na nossa capacidade de exportar e de atrair e manter investimento.
Acompanhando a assertiva expressão de Maria de Belém Roseira na recente sessão solene comemorativa do centenário da República ocorrida na Assembleia, é hoje tempo para um "novo sobressalto patriótico", para uma união convergente de esforços, para um reforço da nossa auto-estima e para uma atitude (colectiva) de combate, que nos permita enfrentar e atravessar este mar alteroso em que navegamos.