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O presidente da Câmara de Matosinhos apresentou anteontem, nas páginas do JN, ainda que com carácter oficioso, a candidatura à liderança do distrital do Porto do Partido Socialista (PS). Não é que não se conhecesse há muito a intenção de Guilherme Pinto, mas antes desta conversa com a jornalista Carla Soares nunca o autarca ousara dizer que, "se as eleições estivessem marcadas, estaria a dizer-lhe [à jornalista e, logo, ao Mundo] que era candidato".
Assumida a candidatura e postas de lado as questões de mercearia que a podem atrapalhar (José Luís Carneiro, presidente da Câmara de Baião e indefectível apoiante de António José Seguro também quer ser presidente da distrital do Porto, por um lado, e, por outro, os contornos, cada vez mais nítidos, de uma candidatura de Manuel Pizarro, ex-secretário de Estado da Saúde e proeminente figura na estrutura socialista, à Câmara do Porto nas próximas autárquicas podem incomodar, ou mesmo desfazer, os planos de Guilherme Pin to...), afastada esta mercearia, dizia, importa saber ao que vem o autarca de Matosinhos.
E por que razão importa? Importa, sobretudo, porque, nos últimos anos, o PS do Porto ora se tem consumido em guerrinhas internas (arte em que, de resto, é há muito especialista), ora tem esquecido o fundamental papel que deve ter no questionamento do que é hoje a cidade do Porto e a Região Norte.
Guilherme Pinto parece ciente disso - e por isso propõe a elaboração, com a ajuda de especialistas, de "um guia daquilo que será ou deve ser a actuação do distrito e do Norte nos próximos anos". Pomposamente, o autarca de Matosinhos quer chamar ao documento "Porto liderante". Erro: o documento devia chamar-se "Norte liderante".
Não é, contudo, este equívoco de linguagem (o diabo, como se sabe, está nos pormenores...) que mais espanta na conversa de Guilherme Pinto. O que mais espanta é o facto de o anunciado candidato à distrital socialista ser incapaz de assumir o óbvio: se quer um "Porto liderante", Guilherme tem que começar por nos explicar os motivos porque não temos, desde há muitos, um "Porto liderante", sendo que não vale resguardar-se na prestação do actual presidente da Câmara da cidade.
Quero dizer: Guilherme Pinto tem que assumir um corte (radical, diria mesmo) com o que, no passado recente, a distrital tem feito para que o Porto seja "liderante". O problema é que o autarca de Matosinhos não vê mal nenhum. Mais: por ele, apesar de as circunstâncias exigirem o contrário, o ex-presidente da distrital deveria ter continuado no posto (Renato Sampaio demitiu-se em Maio).
Conclusão: Guilherme tem palavras para dizer, espera que os estudiosos apontem o caminho a seguir, mas, por evidente precaução política (não pode ser outra coisa), não arrisca dizer o que pensa do passado. Sucede que o passado conta. Expiar os erros não é pecado, antes ajuda a avançar. E tudo o que um candidato a líder de uma estrutura tão importante com a distrital do Porto do PS não pode fazer é começar a (pré)campanha titubeante. É um erro sério, que não deixa antever um candidato... liderante.